EntreGêneros: Fale-nos um pouco sobre sua aptidão para a música. Como ela surgiu em sua vida? Quais as vozes e estilos musicais que lhe inspiraram?
WR: Bem, a música sempre fez parte da minha vida, desde muito cedo com 11 anos de idade mais ou menos, comecei a aprender violão e tive muitas dificuldades de encontrar um professor porque sou canhoto, então meus primeiros passos na música foram como auto didata. Depois tive um acidente de bicicleta, que me impossibilitou de tocar durante algum tempo, quando completei 15 anos, comprei minha primeira Guitarra, uma Tonante Finder que eu insistia em dizer que era uma Fender (uma das mais tradicionais guitarras do mundo), senti então necessidade de me aprimorar, e para isso, tive que reaprender a tocar como destro e comecei a fazer aulas de guitarra. Na época, minhas influencias principais vinham do Rock: Iron Maiden, Metallica, Helloween, Dr Sin, entre outras bandas. Mas com o tempo, passei a ouvir muito de MPB: Djavan, Maria Rita, Jorge Vercilo, Milton Nascimento. Hoje em dia, eu costumo dizer que aprecio boa música, sem me importar com estilo musical, ouço desde Paganini, até Symphony X, desde que a música toque a alma, passe uma mensagem positiva, é o que vale.
EntreGêneros: Ainda falando sobre a música, como classificaria suas composições por gênero musical? Possui alguma composição sua gravada? Pensou em algum momento em dedicar-se a música como profissional?
WR: Houve um momento da minha vida em que me dedicava totalmente à música, tinha uma banda e tocávamos bastante na região de Juiz de Fora e também em algumas cidades do interior do Rio de Janeiro. Na época, nós tínhamos um CD com 11(onze) músicas autorais, entretanto as letras eram todas compostas pelo Vocalista Edson Freitas, ele já tinha essas músicas quando formamos a banda, eu ficava mais por conta da composição dos arranjos, tocávamos um Pop Rock, as pessoas curtiam bastante. Infelizmente houveram alguns episódios que nos distanciaram um pouco da filosofia de trabalho. É muito difícil viver de música, um mercado muito competitivo e praticamente independente, já que pouquíssimos empresários incentivam a música no Brasil.
EntreGêneros: Sua ligação com a música teve alguma influência no descobrimento de sua “veia poética”, fazendo-o enveredar pelos caminhos da poesia?
WR: Totalmente, acho que minha ligação com a música foi a força motriz para eu começar a escrever poesia. Um dia, durante um ensaio da banda combinamos cada integrante de compor uma música, para que no próximo ensaio fosse trabalhada, e assim, num futuro próximo álbum não ser apenas uma pessoa a compor. Mas eu tinha muita dificuldade em escrever numa linguagem popular, nesta tentativa surgiu meu primeiro poema, que se chama Lúdico Canto.
Foi engraçado, porque meus amigos gostaram bastante do que escrevi, mas falaram que era pra escrever música e não poesia, foi aí que me dei conta que tinha escrito uma poesia. A partir daí, foram surgindo outras idéias, consequentemente outras poesias, e aqui estou hoje, com muita honra.
EntreGêneros: Diz-se que a música é mais misteriosa do que a palavra. Como músico e poeta, como circula entre esses universos? A qual deles dedica a maior parte de seu tempo e de qual gosta mais, se esse for o caso?
WR: Acredito que a música age num conjunto vibracional muito maior, do que a simples palavra e a alma sente isso. Na música toda conjuntura de sons, vozes, instrumentos agindo de forma harmônica propicia a nós um prazer além da simples audição, do simples entendimento de significado. É algo que transcende e influência, ainda que não se perceba, nosso comportamento, nosso humor, nossas emoções. A palavra também age da mesma forma, porém numa proporção muito menor, o que faz que geralmente cause menos impacto. Todavia, a poesia é muito mais do que simples palavra, a meu ver a poesia é uma música interior, uma tradução da alma. Ela consegue, ainda que sem um amontoado de sons, causar-nos os mesmos ou talvez até mais efeitos que a música. Eu, particularmente, dedico hoje todo meu tempo livre à poesia.
EntreGêneros: Você considera que o artista vive num constante processo de auto superação. Fale-nos um pouco sobre como sente o seu processo criativo, na música e na poesia.
WR: Penso que o artista em qualquer gênero precisa estar sempre se reinventando. Ser ousado é uma dádiva para aqueles que procuram revolucionar. Seguir sua intuição é sempre um bom caminho. Jacoppo da Lentini quando fez seu primeiro soneto, não imaginava que seria talvez o estilo poético mais usado até hoje e o processo criativo tanto na música, quanto na poesia, é justamente isso, uma mistura de intuição, percepção e emoção. A meu ver, acredito que o processo criativo na música, se diferencie um pouco da poesia, talvez por tratar de sentimentos mais superficiais, coisas do cotidiano. Mas isso é algo impossível de generalizar, existem uma infinidade de estilos musicais, cada um com sua peculiaridade. No que diz respeito à musica, acredito que compor um arranjo musical, no meu ponto de vista, se assemelhe mais à compor uma poesia.
EntreGêneros: Em que fontes artísticas e/ ou literárias buscou/busca sua inspiração para a escrita ?
WR: Para ser bem sincero, a primeira vez que li algo realmente poético foi Goethe, O fausto, que pra mim é o livro mais fantástico de todos. A primeira parte escrita em 1808, salvo engano, consegue se manter atual até hoje. Realmente fantástico! Mas os maiores autores de poesia, nunca fui muito de ler. Fui conhecer Fernando pessoa, Vinícius de Moraes, Camões, Veríssimo, agora bem recentemente. Inclusive, tive um episódio engraçado referente a isso; há quase um mês postei um poema meu e algumas pessoas o compararam a um poema de Vinícius. Eu fiquei muito surpreso, porque nunca tinha lido nada de Vinícius. Depois disso, inteessei-me em lê-lo e observei que realmente se parecem, apesar de terem suas diferenças.
Eu acho importante ter influências, mas é preciso tomar muito cuidado para não se perder a originalidade do autor. Às vezes, mesmo que inconscientemente, podemos nos deixar levar pelas impressões que ficam gravadas na nossa memória quando lemos algo.
EntreGêneros: As emoções humanas são constantemente motivação e tema na escrita poética. O quanto você expõe de suas próprias emoções ao escrever?
WR: Minhas emoções estão inseridas em 100% do que escrevo, se não for assim acredito que fica um texto vazio, porque na verdade a poesia é, a meu ver, uma interpretação do que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, e uma interpretação, para ser chamada como tal, deve por obrigatoriedade estar impregnada das emoções de quem interpreta. Claro que isso não faz com que o que escrevemos sejam sempre sentimentos autobiográficos. Interpretamos a vida num contexto geral e todas particularidades que nossas experiências nos trazem.
EntreGêneros: Você já sentiu alguma vez um estado de impotência frente ao papel ( ou tela do computador), em que as palavras pareciam ter ”fugido” de você, aquele famoso” branco” do qual muitos escritores se queixam?
WR: Já sim, mas eu levo numa boa, eu não sinto a necessidade de escrever todos os dias e geralmente, quando vou escrever e me vejo sem conseguir o que almejo, deixo de lado e espero a criatividade voltar a bater à minha porta. Acredito que ao se colocar num estado de ansiedade, você acaba por lutar contra si mesmo e piora mais ainda o famoso “branco”. Eu escrevo poesias a pouquíssimo tempo. Em outubro de 2012, farão exatamente dois anos que escrevi minha primeira poesia.Tenho poucos textos. Às vezes, vejo poetas comentarem que tem mais de 300 poesias e penso comigo: Nossa, será que um dia chegarei a tantos? Mas acredito que tudo tem seu tempo. Eu não gosto de ir até a poesia, prefiro que ela venha até a mim.
EntreGêneros: Você participa de vários sites e espaços de poesia na internet. Como vê o papel da mesma como difusora de novos talentos?
WR: Acho fantástico! Com a informatização, compartilhar um trabalho ficou mais fácil e rápido e admiro muito as pessoas que tomam a iniciativa de criarem espaços para esta difusão da literatura como um todo. Num país como o nosso, onde os investimentos em cultura são sempre imperceptíveis e cada vez menos pessoas tem acesso a literatura, a internet está aí para ajudar. Eu, graças a Deus conheci pessoas maravilhosas em todos os lugares onde divulguei meus poemas, pessoas que me ajudam, me orientam, me incentivam, e acho esse intercâmbio cultural muito válido. O aprendizado é constante.
EntreGêneros: Wes, peço que fale-nos um pouco sobre você: sua vida, seu trabalho, seus sonhos, seus projetos.
WR: Eu sou uma pessoa super normal, gosto de coisas simples: estar com os amigos, viajar com minha noiva e amo música, como vocês puderam perceber. Apesar de escrever, trabalho com algo que não tem nada a ver com literatura. Sou inspetor de qualidade em processos de soldagem industrial. Estou me mudando para o Rio Grande do Sul em março. Atualmente moro em Juiz de Fora/MG.
Sou alguém que gosta de estar sempre estudando. Meu sonho é me formar em Engenharia Química, depois fazer Filosofia, Letras e terminar a faculdade de jornalismo. Espero um dia lançar um livro com minhas poesias e quem sabe um romance.Tenho já um esboço, mas será um projeto para o futuro, ainda preciso amadurecer muito na escrita para tal. Para já, assim que eu me estabelecer em RS, quero me casar com minha noiva, Talita, que é uma mulher que me apóia muito. É minha fonte de toda inspiração. Acho que é isso.
Quero agradecer ao Blog EntreGêneros pelo espaço a mim cedido e parabenizar pelo maravilhoso trabalho de divulgação de novos talentos da literatura Brasileira. Nosso país precisa de mais iniciativas como estas!
WES ROCHA - Biografia