sexta-feira, 4 de novembro de 2011

JOSÉ ROSÁRIO - PINTURAS


JOSÉ ROSÁRIO - Arrumando a carga - Óleo sobre tela - 50 x 70



JOSÉ ROSÁRIO - Curva de rio - Óleo sobre tela - 90 x 150 - 2011


JOSÉ ROSÁRIO - Entregando o leite - Óleo sobre tela - 60 x 90


JOSÉ ROSÁRIO - Estrada com leiteiro - Óleo sobre tela - 50 x 70 - 2011


JOSÉ ROSÁRIO - Levando o gado - Óleo sobre tela - 100 x 100 - 2011


JOSÉ ROSÁRIO - O gaitista - Óleo sobre tela - 50 x 60


JOSÉ ROSÁRIO - Vindo da pesca - Óleo sobre tela - 50 x 60


JOSÉ ROSÁRIO - Ouro Preto - Óleo sobre tela - 70 x 50

*José Rosário - Entrevista

JOSÉ ROSÁRIO - ENTREVISTA Nº 10





EntreGêneros: Como começou o seu interesse pela pintura? O que o motiva a pintar?


JR: Sempre desenhei, desde muito pequeno. Aos dezesseis comecei a pintar, meio sem técnica específica. Nunca fiz aulas e só a partir dos 23 anos de idade, passei a trabalhar exclusivamente com arte. O primeiro artista que conheci foi o Wilson Vicente, por quem tem uma grande admiração, tanto pela pessoa como pelo artista. O que mais me motiva é o local onde moro. Como a minha temática é mais realista, e voltada para a vida no campo, não faltam motivos para meu trabalho.
Moro em uma região de dupla vocação: uma, onde o aço corre latejando força e progresso, outra, onde o setor rural insiste, sobrevivendo a tudo que o progresso engole.
Nasci em Dionísio, setor rural até hoje. Os tempos me trouxeram para o Vale do Aço e aqui estudei e trabalhei por um bom tempo com projetos industriais. Mas, não há como negar as raízes. Há em cada um de nós, aquela lembrança de cordão umbilical. O corpo sai de um lugar, mas as raízes lá continuam. E se não quisermos sofrer, não podemos calar os chamados.

EntreGêneros: Você exerce alguma outra atividade além da pintura? 


JR: Já trabalhei com desenho industrial por sete anos, num passado já um pouco distante. Agora, além de pintar, dou aulas de desenho e pintura.


EntreGêneros: Quais artistas influenciaram sua obra?


JR:  Vários. Dos nacionais tenho grande admiração por Cláudio Vinícius, Edgar Walter, João Bosco Campos, Luiz Pinto, Túlio Dias, Reider e Mauro Ferreira. O Wilson, além de grande referência se tornou um amigo. A gente se fala sempre que possível. Dos estrangeiros, os nomes que mais admiro  são: Clyde Aspevig, Mian Situ, Velásquez e vários impressionistas franceses, americanos e italianos.


EntreGêneros: Como você classificaria a sua pintura ? Fale-nos um pouco sobre isso.


JR: Dizem que sou um artista acadêmico. Prefiro dizer que sou apenas realista. Academicismo é aquilo que possui mais força como expressão num determinado momento da história. O que nos parece acadêmico, hoje, é o abstracionismo e outras variantes. Não gosto de rótulos, pinto o que gosto. Não me limitaria ficar em um estilo apenas para manter um rótulo.
O desenho técnico deu-me critério, método e disciplina. Mas, é comportado demais para os excessos que a arte exige. Voltei para o campo e por anos pesquisei com novos olhos o que antes me parecia muito comum. A geometria perfeita dos caminhos de bois a sulcar os pastos, a conversa lenta e macia dos causos contados nas esquinas, o vai-vem de pedestres e animais nas tardes que se arrastam sem pressa... À partir daí, encontrei o que eu procurava. Resolvi colocar-me a serviço da arte. Mostrar às outras pessoas um pedaço daquilo que vejo. As curvas de estradas que inspiram mistérios, os rios mansos e ameaçados, a gente tão mineira que ainda encontro aqui e ali e que não tem medo de ser feliz.

Pinto o que vejo e o que vivo, sobrevivendo aos modismos contemporâneos, que vez ou outra insistem em me seduzir. Mas, as raízes, aquelas das quais não se pode fugir, me pedem para serem expostas. Tenho um compromisso com a arte: levar ao mundo um pedaço do meu mundo, que o progresso ainda não conseguiu engolir.


EntreGêneros: Que tipo de colecionadores se interessam por suas obras? 


JR: Todos aqueles que tem mais identidade com temáticas brasileiras, principalmente rurais.




EntreGêneros: Fale-nos um pouco sobre a série de artes com coletâneas de seus trabalhos que você acaba de lançar? 


JR: Hoje é muito fácil e cômodo você compor e publicar um livro. Já é possível fazer isso de sua própria casa, o mundo perdeu vários limites. Tenho participado, além deste livro de produção independente, de outras publicações que me tem proporcionado um bom respaldo.


EntreGêneros: Além da pintura, quais os seus outros interesses na área cultural.  Dentro da literatura, quais são seus autores favoritos?


JR: Em uma fase de minha vida, lia muita literatura científica. Atualmente, tenho visto coisas de Drumond, Cecília Meireles e o último livro que li se chama História Social da Arte e da Literatura, de Arnold Hauser, excelente por sinal. Leio muita literatura voltada a arte. Ficaria fazendo uma extensa lista aqui, se necessário. Indico "O Olhar Amoroso", de Olívio Tavares de Araújo e "Arte para Dummies", de Thomas Hoving.





José Rosário - Biografia 
José Rosário - Pinturas

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

GISELLE SEREJO - POESIAS




Paz




Em nome do nosso planeta
silencie um pouco sua voz
mas não o seu canto
Encante o mundo com seus poemas de amor e
lute em sintonia com a paz
acalme-se e voe junto
cantando o mundo divino em que permaneces
conteste e exponha seus depoimentos
mas em nenhum minuto deixe que seu grito pacífico
altere o seu riso
Construa união
Pontes e estradas que levam à muitos lugares poéticos
(En)cante.






Pistilo



O olhar está parado
sobre o pistilo babão
ele reluz vontade amarelada

É penetrante o que ele faz
poder de vegetal muito forte sobre mim
não consigo não consentir

Me aproximo pelas mãos
elas buscam calmamente o toque divinizado
do caule em riste postado
toco-lhe a baba sagrada
a ponta está molhada
tem cheiro forte, sinto.
provo uma espécie de absintho

Afasto-me agora
olhos fixos sobre ele
lúdico e aquoso
é vegetal autopoderoso
desencadeia no outro
consentimento de gozos!






Nem era assim...



não é bem assim o meu nome
nem é bem assim que eu me chamo
isso tudo foi coisas que me deram não pedi
hoje sou uma vestimenta
facsímile de uma nova era
...vivo em cima da ponte
no cume da faca cortante
meu grande desejo é estar
na zona neutra
é lá minha Passárgada
um dia eu vou
sei que vou.



O Mito de Caronte – O barqueiro da morte



O velho barqueiro moribundo das antigas eras
Navegava à espera de algumas almas ignotas
Pois não era que o defunto
Tinha que viajar junto com seu óbolo
Senão o arquétipo da morte, com sua fúria indecente.
Não tinha dó do dormente
Deixava-o no Limbo
A espera do seu último gemido oco
Mas para o bem da mesquinhez dele
Os visitantes da barca
Iam sempre de boca fechada
Com a moeda debaixo da língua
E assim pagavam sua passagem finda.






Sina 






Não sei se faço rima ou me confesso
se faço prece ou me despeço
uma coisa sei
muito caminhei
em estrada de sol e chuva
pau-a-pique morei

Não quis
Vidas-secas
confesso
foi pura sina viver in verso
aqui não estou agora
só o eu-lírico convexo.






Baile de máscaras-Clube dos espelhos.

Salão dos espelhos-Poesia em Três Atos


I Ato: A chegada da mascarada Colombina

As luzes se acendem e os espelhos comovidosAjeitam-se para receber Colombina, a mascarada.
Majestosa em seu traje branco adentra o salão espelhado
Num susto, (re) vê sua alma refletida no espelho que ri.
Dá um grito e se pergunta: Quem és tu vestimenta costurada?
Que ossos são esses? Ajuntados à ouro e a prata?
Espelho refletido, num sorriso amarelo, responde:
Sou Tu vestimenta preparada.

II Ato: O encontro de Colombina e Arlequim

Levantando suavemente o par de olhos que a beliscam
Olha e vê seu amigo apaixonado, Arlequim, o desgarrado do reino.
Os dois ao mesmo tempo estendem as mãos para contradança no salão
Todos reverenciam a dupla de falsos.

III Ato: Baile de máscaras começa

Muitos risos rodopiam e saltitam pelo salão em xadrez
O promíscuo Pierrot mais uma vez apronta a cena
Encostado na varanda seminua dá um beijo em
Afrodite que o empurra
Colombina e Arlequim riem
Fora de si
Nesse instante sorrateiro
Pisam em suas roupas
Medéia e Galatéia
Expulsas são, pelos donos do salão
Os espelhos. Esperam outras máscaras



Carnálias


Confesso foi o amor dos efemêros
jagaram-se em cima das flores
sem pudor


Ousaram

deletaram todos os ruídos
in-bem vindos

amaram

Deixaram correr frouxo suas luxúrias
amaram como quem ama só por hoje
Fetiches matizes

Efemêros

Nem ligaram para os detritos envolvidos
relaxaram em doce deleites
brincaram de Carpe diem.

Sossegaram.


*Giselle Serejo - Entrevista

GISELLE SEREJO - ENTREVISTA Nº 9



EntreGêneros: Conte-nos um pouco sobre sua profissão de educadora. O que levou-a a fazer essa escolha? Alguma espécie de ideal? 


GS: Olha, eu fiz faculdade de Letras porque queria ser escritora e não professora. Ser professora de Língua portuguesa foi o caminho. O destino, juntamente com a necessidade, me levaram a dar aulas. Gostei muito de dar aulas. Era muito idealista, hoje sou mais realista e vejo que o mundo não mudou como eu esperava que mudasse. Acho que os alunos eram bem mais interessados no  conhecimento formal. 
Hoje, estou em outra função, mas adoro dar aulas, sim, e vejo que os tempos são outros,tecnológicos, meio dispersos,  num mundo amplo de informações. Dou aulas para o Ensino Médio e Fundamental desde 1993,então, já vivi momentos maravilhosos em que os alunos foram muito participativos, como também vivi desrespeitos por parte de alunos da periferia e de escolas particulares que nada queriam com o conhecimento.
Sinto um paradoxo na Educação, ampla de informações, mas ao mesmo tempo presa nesse mesmo mundo cheio de possibilidades, que se não forem bem direcionadas levam ao caos.
O Governo, as políticas educacionais ainda caminham em passos bem lentos. Há muita corrupção,  os desvios das verbas para a Educação e a falta de medidas salariais dignas para o professor, me fizerem rever meus conceitos. 


EntreGêneros: Como avalia o interesse dos jovens pela leitura e pela poesia propriamente dita?


GS: Há alunos que gostam muito de ler (são minoria),mas, para que o aluno se disponha a abrir um livro de literatura, por exemplo, o professor tem que ser leitor, Vejo muitos colegas que não lêem, então como podem passar essa verdade aos alunos?
A Poesia terá que ser algo natural. Eu, como educadora, não posso impor quemeus alunos gostem de poesia, mas eu posso mostrar o mundo da ficção como algo novo e cheio de possibilidades. Quando vc age assim eles (os jovens) se interessam sim.


EntreGêneros: Como iniciou a sua paixão pela escrita?  Quais foram as influências importantes que permearam seu caminho?


GS: Desde cedo meu pai, que era professor universitário, sempre incentivou-me a ler. Fazia assinaturas de revistas infantis da época e também assinava o Círculo do Livro para que eu recebesse os livros de literatura Universal. Isso foi algo encantador e que me fez gostar ainda mais de ler. Lembro que eu era uma adolescente tímida e quando eu chegava em casa do colégio adorava ir para meu canto ficar lendo e escrevendo também(risos). Lembro-me que escrevi meu primeiro "romance" quando eu tinha uns 13 nos. Chamava-se Donátila..rsrs. Nem sei de onde inventei esse título. A poesia surgiu mais tarde um pouco,por influência do meu avô Benjamim, homem sábio e  que lia muitos poemas de Olavo Bilac, entre outros. Eu ficava deitada na rede só ouvindo-o recitar, Nossa! Lembro-me disso e me emociono tanto!... .Acho que essas leituras de avô para neta foram o ponto de partida para a poesia que sempre existiu em mim.
Hoje, leio muito e bebo de muitas fontes, mas vejo que tenho muito do meu "pai" Drummond, da poesia cotidiana, confessional.


EntreGêneros: O quanto de você coloca em seus poemas? Você é daquele tipo de poeta que deixa suas emoções transbordarem ou costuma refrear seu sentir quando escreve?


GS: Eu não costumo refrear meus sentimentos, principalmente em se tratando de Literatura, porque a ficção me leva aonde eu gostaria de ir... ao imaginário das coisas, do mundo, ou dos mundos, então, eu deixo tudo fluir...como pássaros que plainam sentindo a liberdade do vôo.


EntreGêneros: Acompanho seu trabalho a um bom tempo e percebo nele uma evolução significativa, uma busca por novos caminhos. Você considera a escrita um processo de auto superação. Fale-nos um pouco sobre como sente o seu processo criativo.


GS: Sim! A escrita é sempre um processo enunciativo de auto superação, ma medida em que vivemos... o processo é contínuo. Acho que, o amadurecimento na escrita cresce na medida em que voçê lê, em que você expande sua cultura e busca o conhecimento de outras culturas, outras vivências.

EntreGêneros: Os sentimentos humanos são constantemente motivação e tema na escrita poética. O quanto você expõe de suas próprias emoções ao escrever? 


GS: Como diria Mário Quintana, nosso queridinho poeta gaúcho, toda poesia tem um quê de confessional...de projeção do autor-pessoa.Sim...essa questão é polêmica..e muitos teóricos da literatura entram em contradição. Eu sou representada pelos meus "eus" que enunciam os sentimentos perante as coisas do mundo, eles espiam...e enunciam...é isso.


EntreGêneros: A escrita é uma tarefa árdua e solitária, na maioria das vezes. Em algum momento sentiu vontade de desistir de escrever? Fale-nos um pouco sobre a dor e a delícia de ser escritor.


GS: Nunca pensei nisso.Gosto de escrever, essa ação é gratuita para mim, vem como uma vazão, um desaguar de muitos vômitos incontidos e visíveis nos meus textos. Escrever ficção é uma delícia, porque voçê torna-se muitos seres num só ser. Isso é mágico, é teatral e eu gosto de teatros, de palcos e cochias.


EntreGêneros: O escritor gosta de ver seu trabalho reconhecido, uns dão mais importância, outros menos. Sei que você, particularmente, valoriza esse aspecto. Conte-nos sobre algo que lhe deixou feliz nesses anos de percurso na escrita.


GS: Obtive algumas premiações, onde vi o reconhecimento do meu trabalho. Fui premiada no  concurso de contos fantásticos, no ano de 2004, pelo SESC - Amazonas,  com o Conto
:Fanopéia-net,e  em 2003 num Projeto da Prefeitura de minha cidade participei de uma antologia poética chamada Vozes em Madrigal, que por sinal, é o nome do meu grupo poético no Facebook.


EntreGêneros: "Não quero faca, nem queijo. Quero a fome", diz a escritora Adélia Prado. Esse pensamento se aplicaria a você?


GS: Não sei...talvez sim..talvez...não...as vezes eu quero tudo, e só fica a fome...




*Biografia- Giselle Serejo


segunda-feira, 31 de outubro de 2011

JOE (BRAZUCA) CANÔNICO - ENTREVISTA Nº 8




EntreGêneros: "Sou terra, por ter razões. Sou berro, se aberrações. Sou medo, porque me dou. Sou credo, se acreditou." 
Assim você se auto define, de forma poética, em seu blog. Fale-nos um pouco sobre você; sobre a pessoa além de seus versos. 

JB: Bem, Ianê...Primeiro quero te agradecer a oportunidade da entrevista. Muito me honra, de verdade !
Falar da gente, sem cabotinismo, é tarefa complicada, pois pelo sim ou pelo não, o espelho é o que nos PARECE ser, e por muitas vezes tem reflexo distorcido !  (rs rs)
Eu, de uma forma palmar, sou um sujeito simples, sem maiores afetações, coisa e tal, tudo dentro de um viés mediano...
Não tenho nenhuma pretensão mais ou menos acirrada sobre a vida, a não ser vive-la ao meu modo (???...rs rs), e deixar viver cada qual ao seu !
Parece-me de bom tamanho, nessas alturas de minha existência terrena, seja lá o que signifique isso...

EntreGêneros: Você tem na música sua profissão. Como é viver em nosso país como profissional de música?  Fale-nos um pouco sobre esse seu lado artístico e sobre as dificuldades que enfrenta.

JB: Bem...Na verdade, eu não vivo apenas de música, não. Apesar de ser, dentro de
um universo próprio, talvez a mais importante delas (atividades...), hoje, no momento atual, se tiver que me “auto-rotular”, seria assim um “produtor multimídia”, onde abrangeria “n” correlatos, tais como produções em vídeo, áudio (em geral, e música inclusive), internet, enfim, numa “seara” de circunscrição mais vasta, além da música em si.
Contudo existe um porém aí : a PAIXÃO é por ela, indiscutivelmente ! (rs rs)
Aproveitando o gancho : as dificuldade para qualquer pessoa, brasileira, que pretenda sobreviver de sua arte, de uma forma séria e real, é sempre ungida de
grandes dificuldades e tormentos...Acredite nisso !  
Se vale a pena ?...Isso já são “outros 500 cruzeiros”, ou como diríamos nós, os músicos, “outras fusas”...

EntreGêneros: Como começou seu namoro com a escrita? Quais suas leituras e autores inspiradores?

JB: Voce definiu bem ! Foi uma “paquera” ( coisa antiga isso...rs rs) , que virou um “namoro”, que virou um caso sério de amantes inveterados ! (rs rs)
Pelo que me lembro, aliás lembraram-me meus pais, que desde muito jovem, já dava lá minhas “tacadas” pelas sendas da poesia e que tais.
Na verdade, sempre gostei de “escrivinhar” , rabiscar minha coisas, assim como outros tantos da nossa espécie ( a humana...) assim o fazem !
E como sabemos, começa como comichão e acaba nos tomando como urticária, 
com o perdão da comparação esdrúxula !
Quanto à “inspiração”, prefiro definir como “um vasto pomar abarrotado de frutos de todo matiz”...Dos muito bons, até os mais maduros, passando pelos extremamente verdes e pegajosos, até os “quase podres”.
Neste pomar, não há lugar, EM PRINCÍPIO ( desculpe o grito !...rs), para escolher sabores...Tem-se, a minha ótica, que se provar de todo fruto, e depois selecionar
os que, cada um a seu mote, lhe prouver !

EntreGêneros: Os sentimentos humanos são constantemente motivação e tema na escrita poética. O quanto você expõe de suas próprias emoções ao escrever? 

JB: Isso dá uma exegese ! (rs rs)
Bem, em todo caso, é fácil...Procuro, de uma forma geral, “escapulir” desse “sentimentos” meus, próprios do humano, no momento que tento esboçar tais linhazinhas...
Por mais antagônico que nos pareça, eu procuro me abster delas, o mais possível, para que, de alguma forma, surja sempre algo mais próximo de um “racio-emocional”, ou seja, algo que esteja em sua minoria, vinculado ao meu “eu inferior”, meu “id”, o que ao meu ver, embota circunstancialmente de uma universalidade “saudável” à escrita, seja ela de que tipo for, prosa, poesia etc.
Particularmente, eu não acredito que, se consiga escrever “com a alma”, sem correr-se o risco de um “tropeção” no abismo de nossas autocomiserações e visões particularistas sobre os nosso próprios “universos”...
Mas, isso é uma verdade só minha, sem quaisquer alusões e/ou críticas a quem quer que seja, que pense diferente, e que escreva esparramando seu “emocional” pelo papel...

EntreGêneros: Joe Brazuca, Joe Canônico, são alguns dos nomes que você inventou para si mesmo. Prefere usar pseudônimos a seu nome real?  Quantos "Joes" existem no artista e como se exprimem? 

JB: (rs rs)...Então...
A resposta da pergunta acima, vem justificar, de uma certa forma, o “significado” de tantos “nick names”...rs
Realmente, tentamos criar “personagens de nós mesmos”, em nossas vidas e experimentações. Exatamente para desvincular a “persona” da “personificação” !
Contudo, no meu caso, existem explicações, que sejam :
Joe (nos dois casos...) é uma “corruptela” de João Eduardo, meu “verdadeiro” nome, mas NÃO É um nome “artístico”, que abomino tal expressão...rs. Seria apenas um “resumo facilitador”, mais identificável !
O “Brazuca” surgiu de uma “brincadeira” na internet, entre mim e o poeta/músico/multi-artista Lailton Araújo , grande amigo.E significa o que o próprio apelido quer significar : Joe, em BRASILEIRO, com muita honra !...rs
Já, o “Canônico” é sobrenome de família mesmo...Desse, nesta encarnação, não posso escapar !...rs
Os “Joes”, “são” apenas um enquanto corpo, mas infinitos vários, enquanto tentativas, acertos e erros...C’est la vie !

EntreGêneros: Em sua poesia você gosta de brincar com as palavras, tendo na criatividade sua marca registrada.  A busca constante pela inovação exerce um papel importante na sua escrita? Escrever para você significa uma forma de auto-superação?

JB: Sempre, Ianê, cara poetisa !...A auto superação é, a meu ver também, o mote principal de toda e qualquer arte. Ai de quem fizer o contrário !...Daí, não será mais arte ! Será qualquer coisa, menos arte...No meu entender da “inutilidade” da arte, tudo que vem abaixo da auto superação, corre o risco da rudimentar especulação até o ridículo...
Quanto a “brincadeira” com as letrinhas, isso me fascina, tanto em mim (sem falsa modéstia...rs), quanto em tantos outros escritores que conhecemos, pois isso traz a SONORIDADE da palavra escrita, através da sua tradução falada, que por vezes, nada significam num contexto presumível, e na verdade, nem é para significar nada !...Apenas e tão somente, a MUSICALIDADE dessa mesma palavra que , por hora, perdeu o sentido crasso, para ganhar o sonoro, o lúdico, o poético...

EntreGêneros: " Todo escritor precisa de paz para sangrar", diz Fabricio Carpinejar. Esse pensamento  se aplica a você? 

JB: Putz !...é uma máxima do paradoxo da “criação” !...falou e disse, o Poeta
Carpinejar ! Tô com ele e não abro !...rs rs

Muito obrigado, cara Ianê, um beijo !...Espero ter satisfeito o intento !

Joe “Brazuca” Canônico



* JOE CANÔNICO - Poesias

JOE CANÔNICO - POESIAS




Israel (ou "os três sóis de Judá")



De qual Anjo
sairia
áurea lança ?
Qual das Mulheres
geraria
aquela criança ?
Em qual deserto
faria
aquela andança ?
Em qual terra
nasceria
toda esperança ?
De qual reino
surgiria
a vizinhança ?
De qual povo
brotaria
tal confiança ?
Qual tribo
bailaria
a célere dança ?
Para qual povo
se faria
a festança ?
De quem
irromperia
tal liderança ?
Qual Arca
guardaria
tão forte aliança ?
Em que Paraíso
perpetuaria
toda abastança ?
De qual José
se esperaria
tal bonança ?
Em qual das Marias
se plantaria
tal semente
de mudança ?



Antípoda



Posso ser vil o quanto as flores me instiguem
Posso ser excelência o tanto me agucem os crimes
Deverei ser cruel o quanto me ensine
o azul do céu
Deverei ser caridoso o tanto que me mostre
todo mar lodoso
De minha doce boca sairá enxames
De minha compreensão se instaurarão ditames
De perversas palavras brotarão nações
de tão sórdidas, se louvarão canções
A cada passo ido, voltarei no tempo
e a cada atraso consentido atingirei meu intento
De cada bocada no alimento nobre
vomitarei aos borbotões, até que nada sobre
Minhas mais sinceras lágrimas
corroerão suas faces, como estigmas
Do meu odioso espasmo e grito
resplenderá à elevação, ao solene mito
do que haverá de mais bonito !

Já não colho mais flores, às suas mortes prematuras
Já não lustro os sapatos, à tirar-lhes o pó do tempo perdido
Já não enxugo as lágrimas, que lhe dissolveram os olhos e o rímel
nem tampouco me lavo e me seco, nem me benzo e exorcizo ...
Minhas asas se derreteram sob o deserto escaldante
e nem ao menos, tal como Ícaro,
alcei voo ao seu destino previsível e fatídico
Dédalo de mim mesmo, sigo seguindo meus sóis...



Porquês



Por que chegou tão tarde
assim, sem fazer alarde
com estes olhos desenhados
só meio alegres
e inteiro amargurados ?

Por que sorriu tão linda
assim, tão cedo e ainda
mostrou teus bailados
e em meio a lábios,
me deixou na berlinda ?

Por que veio tão doce
assim, como num enlace
acenou beijos açucarados
e com trejeitos sábios
me levou ao impasse ?

Por que jogou esse charme
ateou fogo sem alarme
com esse corpo alado
de asas finas e leves,
e me deitou acabado ?

Por que dançou a música
assim, como fosse a única
jogou este olhar malvado
em encantos breves,
cedi completo e tomado ?

Por que revelou o que sinto
me prendeu em teu labirinto
alçapão enclausurado
desarmou meu passado,
e nem para mim mais minto ?

Por que tocou minhas notas
assim , tão castas e devotas
coração escancarado
despiu-me da alma às botas
me fez morrer hemorrágico,
sem ter sangrado ?

Porque chegou tão tarde
assim, sem fazer alarde...


Sete Tempos

Manda-me mais sonhos
ainda tenho muito sono
é cedo para camisa e gravata
os anjos rondam minha cama
e me arrumam as cobertas

Ferva-me mais água
o café, deixa que meço
é cedo para o banho quente
o aroma inunda a casa
e pede janelas alertas

Esquenta-me mais os ladrilhos
ainda visto macia flanela
é cedo para a porta e fresta
os sonhos inda persistem
fogem das horas certas

Banha-me de doce perfume
ainda de que breve escuma
é cedo para o baile e festa
o lenho que queima e aquece
trepida em faíscas dispersas

Arruma-me por sobre o leito
a roupa que o sol secou
é cedo para o pente em riste
o torpor que cai e esvanece
deixa por sombras discretas

Alinha-me sobre o peito
o pão que ainda existe
É cedo para a faca e corte
O leite de ubre e porte
escorreu por valas abertas

Lustra-me o couro pisado
ainda é pouco o brilho
já se faz tarde, ao que viestes
o corpo cálido que a lua velou
deita eterno em pedras concretas...



sobre Bill, Village , 46th Street com 5ª no baixo e pernas...(sandices em 3 movimentos)

I

quando ouço Bill Evans,lembro New York
até do teu pescoço branquinho.
Voce sabe...ou não lembra ?
porque a cada acorde resoluto estremeço
adrenalinicamente óbvio, dor de barriga
pelo e pele e curva e alcova e soul
teu cheiro na minha barba, minha cova
subway do teu sorriso no meu estômago
fico nanico, pago esse mico
...aí ?...vai ou não ?... que coisa !
será que teu sorriso não sai
mais de um sol com a 4ª no baixo ?
é droga...só pode ser !...ácido lisérgico
esse trio não é moleza,
só destreza e quero mais
à dois, com talheres ao fundo
eu vou pro fundo do teu olhar
passado na Broadway com 5ª
nosso cenário é a Greenwich Village
putz !...começou o solo do baixo...
fico muito puto com tanta
baixaria...ou seria a tua BRUXARIA ?
[please, driver... get on left, to 46 Street
I left my heat on her heart, sorry…
nothing more to do…]
quando ouço o Bill de novo
te lembro e morro sozinho
no Central Park, China Town
Voce não vem ?...Também não vou...
estamos resolvidos em Si sustenido...
ah !...que besteira !...isso é um Dó !

II

Levanto e misturo café com pasta de dente
newspaper com sanduíche de queijo-quente
Me sinto vulnerável igual September11
ainda levanto pra escrever bobagens
de novo ouço Bill Evans, e traço linhas
sem conduta nenhuma mesmo
pura porralouquice, meninice mesmo...
miseravelmente louco, babo um pouco
me desespero e espero seu triângulo
pelúcia amaciada com Confort...
a gente bem que podia se encontrar
pra namorar um cup of coffee whit Bourbon
naquele bar em frente ao Metropolitan...
peraí !...D dim/9...G7+/A...C7+/G
ficou legal ?...sei não...meio blasé...
Não consigo esquecer daquelas pernas
se Bernstein tivesse vivo,
faria uma sinfonia pra elas...
ta bom...ta bom...faço eu, então
no mínimo uma Sonata elas valem
“Sonata Nº 5 , per tue gambe...”

III

Preciso ir até Down Town...
O que me faz voltar pra cama
é poder escrever, tocar, beber, amar
et coetera e tausssssss...



*JOE CANÔNICO - Entrevista

domingo, 30 de outubro de 2011

ANDREA LIZARB - POESIAS





Bela de Uma Tarde




Se você aceitasse 

a tarde bela,

aquela que espera...

Se o mundo parasse,



Maior sua coragem fosse...

Bem sabe, seria só uma tarde.

Que inteira coubesse

O fogo que há muito arde.



Ida de uma só via,

Amor só de um dia,

Digo melhor, de uma tarde.



Arderia sem palavras.

Entraria mudo, embevecido sairia.

O resto você decidiria. 





 (O tempo grita vontades. É preciso que elas se calem.)




Lento veio


O gosto

Lento, gostoso...

Lentamente

Saboreio

Lengostosamente

Seu veio.
                                                                                                                                                           


De Côté




Sou sua bailarina

Flutuo sobre seus pensamentos

Bailo em céu estrelado

Represento o momento do amor



Devaneio solo de pés delicados

Que mal ousam meia ponta tocar

O corpo reage, arrepia diante da altivez

Inda assim repito a decorar sua coreografia



Deslizo em lagos negros de cisnes mortos

Desesperançada Coppélia, lânguida Camélia

Pas de deux negro, sombria sina



Emoção pulsa e quebra-nozes

Em música de tensão, tragédia e paixão

O Corsário arrebata e baila Giselle.





Vigília




Meus olhos me olham

Vigiam meus passos

Estarrecem quando passo

Sem compasso

Perdida neste laço



Desespero posto que adiante

Há um caminho diferente

Inseto um gesto, levanto os braços

A cabeça em delírio abraço

Em intenso descompasso



Sondam-me olhos em insônia

O suor deste sudário

Sentinela de uma só silhueta 

Semovente sem sensor

Em meio a névoas e fumaça



Sigo a sina sem sinal

Selo o silvo deste sismo

Silencio sensível e sibilante

Sinto muito, sensitiva,

O final desta senda sem fim...




INDELÉVEL



Previsão desditosa desta estória

Predestinação ao fim desde outrora

Submissão concebi da deixa inglória

Esperançosa paixão perigosa permiti 




Areias revolvem o escopo passado

O sopro indelével no coração marcado

Resignação ao ver seu decolar

Leveza insustentável de viver





Bem te via a nadar.

A espuma a embranquecer

Eu sou ave a voar.

A seguir de longe até te perder

De asa partida descobri 

Que caso sequer ...Fui eu de ti.


               

Andrea Lizarb - Entrevista