quarta-feira, 2 de novembro de 2011

GISELLE SEREJO - ENTREVISTA Nº 9



EntreGêneros: Conte-nos um pouco sobre sua profissão de educadora. O que levou-a a fazer essa escolha? Alguma espécie de ideal? 


GS: Olha, eu fiz faculdade de Letras porque queria ser escritora e não professora. Ser professora de Língua portuguesa foi o caminho. O destino, juntamente com a necessidade, me levaram a dar aulas. Gostei muito de dar aulas. Era muito idealista, hoje sou mais realista e vejo que o mundo não mudou como eu esperava que mudasse. Acho que os alunos eram bem mais interessados no  conhecimento formal. 
Hoje, estou em outra função, mas adoro dar aulas, sim, e vejo que os tempos são outros,tecnológicos, meio dispersos,  num mundo amplo de informações. Dou aulas para o Ensino Médio e Fundamental desde 1993,então, já vivi momentos maravilhosos em que os alunos foram muito participativos, como também vivi desrespeitos por parte de alunos da periferia e de escolas particulares que nada queriam com o conhecimento.
Sinto um paradoxo na Educação, ampla de informações, mas ao mesmo tempo presa nesse mesmo mundo cheio de possibilidades, que se não forem bem direcionadas levam ao caos.
O Governo, as políticas educacionais ainda caminham em passos bem lentos. Há muita corrupção,  os desvios das verbas para a Educação e a falta de medidas salariais dignas para o professor, me fizerem rever meus conceitos. 


EntreGêneros: Como avalia o interesse dos jovens pela leitura e pela poesia propriamente dita?


GS: Há alunos que gostam muito de ler (são minoria),mas, para que o aluno se disponha a abrir um livro de literatura, por exemplo, o professor tem que ser leitor, Vejo muitos colegas que não lêem, então como podem passar essa verdade aos alunos?
A Poesia terá que ser algo natural. Eu, como educadora, não posso impor quemeus alunos gostem de poesia, mas eu posso mostrar o mundo da ficção como algo novo e cheio de possibilidades. Quando vc age assim eles (os jovens) se interessam sim.


EntreGêneros: Como iniciou a sua paixão pela escrita?  Quais foram as influências importantes que permearam seu caminho?


GS: Desde cedo meu pai, que era professor universitário, sempre incentivou-me a ler. Fazia assinaturas de revistas infantis da época e também assinava o Círculo do Livro para que eu recebesse os livros de literatura Universal. Isso foi algo encantador e que me fez gostar ainda mais de ler. Lembro que eu era uma adolescente tímida e quando eu chegava em casa do colégio adorava ir para meu canto ficar lendo e escrevendo também(risos). Lembro-me que escrevi meu primeiro "romance" quando eu tinha uns 13 nos. Chamava-se Donátila..rsrs. Nem sei de onde inventei esse título. A poesia surgiu mais tarde um pouco,por influência do meu avô Benjamim, homem sábio e  que lia muitos poemas de Olavo Bilac, entre outros. Eu ficava deitada na rede só ouvindo-o recitar, Nossa! Lembro-me disso e me emociono tanto!... .Acho que essas leituras de avô para neta foram o ponto de partida para a poesia que sempre existiu em mim.
Hoje, leio muito e bebo de muitas fontes, mas vejo que tenho muito do meu "pai" Drummond, da poesia cotidiana, confessional.


EntreGêneros: O quanto de você coloca em seus poemas? Você é daquele tipo de poeta que deixa suas emoções transbordarem ou costuma refrear seu sentir quando escreve?


GS: Eu não costumo refrear meus sentimentos, principalmente em se tratando de Literatura, porque a ficção me leva aonde eu gostaria de ir... ao imaginário das coisas, do mundo, ou dos mundos, então, eu deixo tudo fluir...como pássaros que plainam sentindo a liberdade do vôo.


EntreGêneros: Acompanho seu trabalho a um bom tempo e percebo nele uma evolução significativa, uma busca por novos caminhos. Você considera a escrita um processo de auto superação. Fale-nos um pouco sobre como sente o seu processo criativo.


GS: Sim! A escrita é sempre um processo enunciativo de auto superação, ma medida em que vivemos... o processo é contínuo. Acho que, o amadurecimento na escrita cresce na medida em que voçê lê, em que você expande sua cultura e busca o conhecimento de outras culturas, outras vivências.

EntreGêneros: Os sentimentos humanos são constantemente motivação e tema na escrita poética. O quanto você expõe de suas próprias emoções ao escrever? 


GS: Como diria Mário Quintana, nosso queridinho poeta gaúcho, toda poesia tem um quê de confessional...de projeção do autor-pessoa.Sim...essa questão é polêmica..e muitos teóricos da literatura entram em contradição. Eu sou representada pelos meus "eus" que enunciam os sentimentos perante as coisas do mundo, eles espiam...e enunciam...é isso.


EntreGêneros: A escrita é uma tarefa árdua e solitária, na maioria das vezes. Em algum momento sentiu vontade de desistir de escrever? Fale-nos um pouco sobre a dor e a delícia de ser escritor.


GS: Nunca pensei nisso.Gosto de escrever, essa ação é gratuita para mim, vem como uma vazão, um desaguar de muitos vômitos incontidos e visíveis nos meus textos. Escrever ficção é uma delícia, porque voçê torna-se muitos seres num só ser. Isso é mágico, é teatral e eu gosto de teatros, de palcos e cochias.


EntreGêneros: O escritor gosta de ver seu trabalho reconhecido, uns dão mais importância, outros menos. Sei que você, particularmente, valoriza esse aspecto. Conte-nos sobre algo que lhe deixou feliz nesses anos de percurso na escrita.


GS: Obtive algumas premiações, onde vi o reconhecimento do meu trabalho. Fui premiada no  concurso de contos fantásticos, no ano de 2004, pelo SESC - Amazonas,  com o Conto
:Fanopéia-net,e  em 2003 num Projeto da Prefeitura de minha cidade participei de uma antologia poética chamada Vozes em Madrigal, que por sinal, é o nome do meu grupo poético no Facebook.


EntreGêneros: "Não quero faca, nem queijo. Quero a fome", diz a escritora Adélia Prado. Esse pensamento se aplicaria a você?


GS: Não sei...talvez sim..talvez...não...as vezes eu quero tudo, e só fica a fome...




*Biografia- Giselle Serejo


7 comentários:

  1. Excelente entrevista!

    Parabéns pela escolha, Ianê. E você Gisele que já conhecia do Diálogos Poéticos, so nos acrescenta com sua poesia.

    Beijos as duas

    Mirze

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  2. Concordo com você Mirze! Muito interessante! Parabéns Ianê e Gisele!

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  3. Obrigada, queridas, pelos comentários e pela presença amiga.
    Bjs.

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  4. OBRIGADA A TODOS E A TODAS QUERIDAS PESSOAS QUE LEEM E PRINCIPALEMNTE À VOCÊ POETA Ianê Melo,sempre envolvida com a cultura literária sobretudo.Bjks.

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  5. Adorei a entrevista... É sempre bom conhecer um pouquinho mais sobre novos autores e amantes da literatura. Parabéns, pelo blog. Muito organizado. Se quiser me visitar:
    http://www.juntando-palavras.blogspot.com.br/
    Abs!

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  6. Gostei muito de ler a sua entrevista, só posso dar-lhe os PARABÉNS! no final quando diz "às vezes eu quero tudo, e só fica a fome"... bonito, adorei!!!

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