sexta-feira, 4 de novembro de 2011

JOSÉ ROSÁRIO - ENTREVISTA Nº 10





EntreGêneros: Como começou o seu interesse pela pintura? O que o motiva a pintar?


JR: Sempre desenhei, desde muito pequeno. Aos dezesseis comecei a pintar, meio sem técnica específica. Nunca fiz aulas e só a partir dos 23 anos de idade, passei a trabalhar exclusivamente com arte. O primeiro artista que conheci foi o Wilson Vicente, por quem tem uma grande admiração, tanto pela pessoa como pelo artista. O que mais me motiva é o local onde moro. Como a minha temática é mais realista, e voltada para a vida no campo, não faltam motivos para meu trabalho.
Moro em uma região de dupla vocação: uma, onde o aço corre latejando força e progresso, outra, onde o setor rural insiste, sobrevivendo a tudo que o progresso engole.
Nasci em Dionísio, setor rural até hoje. Os tempos me trouxeram para o Vale do Aço e aqui estudei e trabalhei por um bom tempo com projetos industriais. Mas, não há como negar as raízes. Há em cada um de nós, aquela lembrança de cordão umbilical. O corpo sai de um lugar, mas as raízes lá continuam. E se não quisermos sofrer, não podemos calar os chamados.

EntreGêneros: Você exerce alguma outra atividade além da pintura? 


JR: Já trabalhei com desenho industrial por sete anos, num passado já um pouco distante. Agora, além de pintar, dou aulas de desenho e pintura.


EntreGêneros: Quais artistas influenciaram sua obra?


JR:  Vários. Dos nacionais tenho grande admiração por Cláudio Vinícius, Edgar Walter, João Bosco Campos, Luiz Pinto, Túlio Dias, Reider e Mauro Ferreira. O Wilson, além de grande referência se tornou um amigo. A gente se fala sempre que possível. Dos estrangeiros, os nomes que mais admiro  são: Clyde Aspevig, Mian Situ, Velásquez e vários impressionistas franceses, americanos e italianos.


EntreGêneros: Como você classificaria a sua pintura ? Fale-nos um pouco sobre isso.


JR: Dizem que sou um artista acadêmico. Prefiro dizer que sou apenas realista. Academicismo é aquilo que possui mais força como expressão num determinado momento da história. O que nos parece acadêmico, hoje, é o abstracionismo e outras variantes. Não gosto de rótulos, pinto o que gosto. Não me limitaria ficar em um estilo apenas para manter um rótulo.
O desenho técnico deu-me critério, método e disciplina. Mas, é comportado demais para os excessos que a arte exige. Voltei para o campo e por anos pesquisei com novos olhos o que antes me parecia muito comum. A geometria perfeita dos caminhos de bois a sulcar os pastos, a conversa lenta e macia dos causos contados nas esquinas, o vai-vem de pedestres e animais nas tardes que se arrastam sem pressa... À partir daí, encontrei o que eu procurava. Resolvi colocar-me a serviço da arte. Mostrar às outras pessoas um pedaço daquilo que vejo. As curvas de estradas que inspiram mistérios, os rios mansos e ameaçados, a gente tão mineira que ainda encontro aqui e ali e que não tem medo de ser feliz.

Pinto o que vejo e o que vivo, sobrevivendo aos modismos contemporâneos, que vez ou outra insistem em me seduzir. Mas, as raízes, aquelas das quais não se pode fugir, me pedem para serem expostas. Tenho um compromisso com a arte: levar ao mundo um pedaço do meu mundo, que o progresso ainda não conseguiu engolir.


EntreGêneros: Que tipo de colecionadores se interessam por suas obras? 


JR: Todos aqueles que tem mais identidade com temáticas brasileiras, principalmente rurais.




EntreGêneros: Fale-nos um pouco sobre a série de artes com coletâneas de seus trabalhos que você acaba de lançar? 


JR: Hoje é muito fácil e cômodo você compor e publicar um livro. Já é possível fazer isso de sua própria casa, o mundo perdeu vários limites. Tenho participado, além deste livro de produção independente, de outras publicações que me tem proporcionado um bom respaldo.


EntreGêneros: Além da pintura, quais os seus outros interesses na área cultural.  Dentro da literatura, quais são seus autores favoritos?


JR: Em uma fase de minha vida, lia muita literatura científica. Atualmente, tenho visto coisas de Drumond, Cecília Meireles e o último livro que li se chama História Social da Arte e da Literatura, de Arnold Hauser, excelente por sinal. Leio muita literatura voltada a arte. Ficaria fazendo uma extensa lista aqui, se necessário. Indico "O Olhar Amoroso", de Olívio Tavares de Araújo e "Arte para Dummies", de Thomas Hoving.





José Rosário - Biografia 
José Rosário - Pinturas

Um comentário:

  1. Excelente entrevista!

    O que gostei foi que a sinceridade dele, e talvez a honestidade não o tira da temática que ama: a pintura.

    Preciosa!

    Parabéns e muito sucesso!

    Parabéns, Ianê!

    Mirze

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