quarta-feira, 23 de novembro de 2011

NILSON BARCELLI - ENTREVISTA Nº 13




EntreGêneros: Que águas o levaram ao fluir poético? Em que fontes mata sua sede e busca  inspiração?

NB: Comecei a tentar fazer poesia em 2005, depois de quase 2 anos de blog, porque me pareceu que gastaria menos tempo do que contar histórias ou fazer textos de opinião social e política como até então vinha a fazer. Nunca tinha feito antes, mas lia muitos poetas, principalmente o Fernando Pessoa nos seus diferentes heterónimos. As principais fontes de inspiração que tenho são o amor e a intervenção social ou política.

EntreGêneros: Relembrando o estudo da poética de Aristóteles, quanto aos termos mimesis e Katharsis, a poesia seria uma representação do mundo sensível, visando a catarse destas emoções, idéia que encontra ressonância em muitos poetas. Como esse fato se aplicaria a você?  O que é ser poeta para você e   que sua poesia tem de confessional?

NB: A minha poesia é mais racional do que emocional, muito embora possa não parecer assim ao leitor e ainda que, no essencial, eu escreva sobre emoções. Portanto, não tem em vista a catarse das minhas emoções. Resumindo, é quase só suor e pouquíssima inspiração, sendo cada poema construído na exploração das mil e uma possibilidades que a língua portuguesa tem.

EntreGêneros: Os medos, como do silêncio e do escuro, são universais. Através da escrita, o poeta interrompe o silêncio, faz ouvir a sua voz. Como você lida com o silêncio da folha (ou tela) em branco. Já sentiu algum tipo de bloqueio para escrever?

NB: Só sinto bloqueios antes de começar a escrever. Depois de iniciar um poema, as palavras e as ideias vão puxando outras palavras e outras ideias. É um processo que envolve muitas tentativas e retrocessos, podendo demorar várias horas, muitas vezes distribuídas por vários dias. Quando termino, sinto sempre a necessidade de mais alterações. Mas não continuo porque o céu é inatingível, ainda que devamos fazer todos os esforços para lá chegar...

EntreGêneros: No site do poeta Marcel Angel, você diz: "Também gosto das poesias de antanho...", referindo-se a forma poética denominada soneto.  O que você pensa de um dos elementos mais enfraquecidos pela literatura contemporânea e até que ponto sentiu-se influenciado por ele em sua própria criação poética?

NB: Não me sinto influenciado pela forma, pela rima ou pela métrica. Mas a "poesia de antanho" contém imagens poéticas brilhantes e, principalmente, uma estrutura lógica de princípio meio e fim que me fascinam e que talvez me influenciem. Para além disso é poesia filtrada pelo tempo, onde quase só os poemas muito bons ainda perduram.

EntreGêneros:  O poema intitulado Reclamação, postado em seu blog é precedido de uma referência à Fernando Pessoa. As últimas poesias postadas nos meses de Setembro e Outubro desse ano são enfáticas ao questionarem e criticarem a pessoa do "eu". Você vê uma aproximação de afinidades poéticas com Pessoa? Quem é Pessoa para você?

NB: Li quase toda a obra de Pessoa e, por isso, é natural que seja influenciado por ele, mesmo que inconscientemente.  Depois de ter escrito o Poema "Reclamação", de intervenção social, lembrei-me do poema "O Andaime" de Pessoa, que também o é, e coloquei 2 excertos desse poema de modo a criar “ambiente” para o meu poema.
A crítica que faço do “eu”, é essencialmente colectiva. A crise que atravessamos, financeira e económica, exigiria que as pessoas se organizassem em torno de objectivos comuns e os fizessem sentir ao poder político. Mas tal não está a acontecer, existindo uma passividade desconcertante. Neste aspecto os gregos estão praticamente sozinhos. Esta atitude do povo, que vai empobrecendo, a par da sobranceria do poder, é um filão e um dever para os poetas.

EntreGêneros: "É por ti que escrevo que não és musa nem deusa/ mas a mulher do meu horizonte /a imperfeição e na incoincidência do dia-a-dia ", António Ramos Rosa, in 'O Teu Rosto'. Sente-se influenciado por esse grande poeta, também conterrâneo seu, como Pessoa?

NB: Identifico os poemas de Pessoa mesmo sem terem a referência do autor. Mas isso não acontece com a poesia de António Ramos Rosa, a não ser os poemas que conheço bem. Portanto, é natural que não existam influências deste autor na minha poesia.

EntreGêneros: "O amor transforma o mundo noutra cor..." Belas palavras usadas por você ao comentar a respeito de um poema cuja temática era o amor num blog visitado. Você se diria um escritor romântico, tendo o amor como uma temática constante em seus poemas?

NB: Sou fascinado pelo sentimento amor, o qual possui um número infinito de cambiantes. Tendo sido cantado desde sempre pelos poetas, ele constitui, por isso, um tema inesgotável.
Acho que sou, na verdade, um poeta romântico. Até porque, enquanto escrevo, me sinto apaixonado pelo tema ou objecto do poema e, através disso, consigo ver o mundo doutra cor.

EntreGêneros: A figura feminina costuma ser exaltada em seus poemas, não só em seu aspecto físico, mas em seu interior, o que nos mostra sua admiração e amor pela alma feminina.  Nesse contexto, como você vê a poesia feminina? Acha que difere muito da poesia masculina?

NB: Em geral, gosto mais da poesia feita por mulheres. Isso deve ter a ver com a maior sensibilidade que elas conseguem colocar nas palavras. E talvez seja por isso que as mulheres gostam mais que os homens da minha poesia. Porque os olhos e a alma das mulheres são capazes de ver a poesia com maior amplitude que os homens.

EntreGêneros: Qual é a origem e o significado da palavra nimbypolis? O que o levou a escolher esse nome para o seu blog?

NB: O nome do blog surgiu pelo conteúdo com que o iniciei, que era a de crítica social e política. É formado por duas palavras: nimby + polis. Not in my back yard, é uma expressão idiomática americana relacionada com o ambiente, que diz que os poluentes não devem ser despejados perto de mim, ou seja, tem implícita a ideia do poluidor/pagador ou a de que quem polui é que deve resolver o problema. Com o Polis, a ideia é que esses princípios se devem aplicar à sociedade em geral e ao poder político em particular, nomeadamente nos aspectos da corrupção, má governação, etc.

EntreGêneros: Fale-nos um pouco da pessoa além do poeta, seus sonhos, seus projetos, sua vida.

NB: Comecei o meu blog para melhorar a minha capacidade na escrita, porque, sendo engenheiro, o meu currículo escolar na língua portuguesa é muito pobre. Para além disso, a minha narrativa característica vinha a ser “afunilada” pelos inúmeros relatórios que fazia, onde a capacidade de síntese é a palavra de ordem (de contrário, ninguém lê…). Foi por isso que nos 2 primeiros anos de blog fazia verdadeiras redacções…
Foi a falta de tempo que me levou a ser poeta… Pensava eu que gastaria menos tempo para fazer uns versos… Com o tempo vi que não era assim, porque para fazer poesia com alguma qualidade é preciso algum tempo, dado que eu não sei fazer poesia espontânea.
O passo seguinte seria publicar em livro. Mas isso não está no meu horizonte a curto prazo. Primeiro quero fechar o blog atual e recomeçar um outro com o meu nome próprio, para avaliar até que ponto a ausência da protecção do pseudônimo me inibe. Depois disso, se tudo correr bem, talvez publique. Este processo de maturação deverá demorar uns 5 anos.




15 comentários:

  1. A Página estava fora do ar. Vim parabenizar Nilson pela trajetória que o conduziu a tão belos poemas e lucramos nós.

    Obrigada e beijos a ambos

    Mirze

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  2. Mirze, obrigado pelo teu comentário.
    Já li poemas teus e gostei.
    Beijos.

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  3. Gostei muito desta entrevista.
    Já me tinha perguntado se não haveria algum livro do Nilson publicado... Força, meu amigo, tens material de qualidade para publicar.

    :)

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  4. Conhecer um pouco o poeta que admiro pelas letras é prazeroso. Sempre observei que tem engajamento em questões políticas, manifestando, muitas vezes, esse lado, em sua escrita.
    Quando publicar um livro, certamente terei grande satisfação em possuí-lo.

    Bjs.

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  5. Olá,
    Admiro o Nilson pela sua delicadeza e talento.
    Achei a entrevista excelente e gostei muito de conhecer um pouco mais acerca deste poeta sensível, que nos presenteia com belos poemas.
    Beijos aos dois.

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  6. Esta excelente entrevista revela o homem culto que sempre vi em ti e mostra que se pode ser Poeta com letra maiúscula em qualquer fase da vida, basta querer e ter alma, coração e vida.
    Beijo de parabéns.

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  7. Esperamos então a caída da máscara, meu amigo engenheiro.

    Beijo

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  8. Ianê Mello & Nilson Barcelli

    Para supersticiosos poder-se-ia considerar BEM ou MAU.
    Para mim, os meus Parabéns aos dois.
    Classificados com Distinção.

    Beijos e Abraços

    SOL
    http://acordarsonhando.blogspot.com/

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  9. Fiquei a conhecer um pouquinho mais do Nilson.
    Uma excelente entrevista.
    Então fico a aguardar pelo novo blogue e
    que eu venha a saber qual o seu link.
    Um beijinho aos dois.
    Irene

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  10. Excelente entrevista. Gostei imenso de saber um pouco mais sobre o poeta que habita o Nilson, inclusivamente dos seus planos para o futuro. Estarei atenta. Muitas felicidades.

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  11. Gostei muito de conhecer um pouco mais o autor de poemas que muito aprecio. Continue...beijos

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  12. Naveguei e encontrei
    uma Exelente entrevista
    Parabéns Nilson,meu amigo.
    Beijinhos

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  13. Hoje, tendo-me dedicado mais aos blogues, pude fazer o que há muito queria: saber um pouco mais do Nilson pessoa. O google ajuda e vim parar ao EntreGéneros. Foi uma bela surpresa. Não é a primeira entrevista que leio, aqui, pois a Ianê publicitou-o no FB.
    Gostei de saber de ti e dos teus projetos. Parabéns pela entrevista.
    Bjo

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  14. Ola Nilson, já há algum tempo que tinha lido está entrevista e hoje resolvi deixar o meu comentário. Adorei conhecer um pouco mais sobre o poeta que admiro e cuja poesia me encanta pela beleza da estética que incute na mesma. Força para colocar no prelo o seu primeiro livro que decerto será um sucesso. Bjs Ailime

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