Teatro



Hector Babenco dirige Bárbara Paz e Ricardo Tozzi 



Primeira adaptação teatral do romance de Lolita Pille, o espetáculo “Hell” mostra um retrato devastador da juventude rica e consumista de Paris, que preenche suas vidas com sexo, álcool, drogas e roupas de grife. Babenco teve a parceria de Marco Antônio Braz, concentrando a ação da peça na trágica história de amor vivida pela protagonista Hell, interpretada por Bárbara Paz, e Andrea, um jovem tão rico e tão imerso no desespero quanto ela, na pele de Ricardo Tozzi.

“Sou essencialmente um homem de teatro. Foi assim que comecei e assim tenho prosseguido. Deixando esta marca forte dentro dos meus filmes. A descoberta do livro Hell me despertou de uma forma feroz, como nunca antes me aconteceu,” conta Babenco que conheceu o livro através de Bárbara Paz.

Lolita Pille escreveu a peça com 18 anos, “num instante de rebeldia”, segundo conta. Não precisou pesquisar muito, bastava conversar com as amigas insolentes e mimadas e descrever seu próprio cotidiano, vivido em badalados restaurantes, bares de hotéis e áreas vips de boates. A peça pode se passar em qualquer grande cidade do mundo, pois espelha os valores e o comportamento de uma classe que, sem encontrar limites para o prazer, vive o angustiante vazio do excesso.

“Penso que a transposição deste texto para dramaturgia de dois atores possa de alguma forma flagrar um instante de vida onde a vida real parece impossível. Gostaria de entregar no palco a sensação do fracasso do amor, entre pessoas que tem tudo para serem felizes e que são impedidas pelos vícios ou por um comportamento doentio delas mesmas,” finaliza o diretor.




Um em cada ponta do palco, eles caminham na horizontal, devagar, um na direção do outro. Despem uma peça por vez'



Na primeira cena de Hell  vemos a protagonista trocar de roupas, frenética, como se sucessivamente trocasse de alma. O olhar à frente, na direção da platéia, como quem fita um espelho. Ela se prepara para sair, e é em nós que se reflete para conferir se soa bem a combinação que pôs. Monologa. Rica, vazia, intensa, autodestrutiva e melancólica, no entanto, ainda assim, exultante. Discursa sobre nós com desprezo. Pobre ou classe média, a mesma necessidade de trabalho que ela não tem, a sensação de melhora por ganhos que lhe parecem insignificantes. A elite inalcançável. Cujos filhos entopem o nariz de cocaína e consomem-se em orgia nas noites francesas. 


O que você faria se estivesse além da cotidiana tentativa de controle e da preocupação com consequências?'