domingo, 23 de outubro de 2011

JOSÉ CARLOS PATRÃO - ENTREVISTA Nº 4





EntreGêneros: Você exerce alguma atividade além da escrita?

JC: Claro que sim, a escrita só para muito poucos pode ser actividade exclusiva, trabalho há 23 anos para o Estado Português, inicialmente no Ministério da Defesa e Ministério da Administração interna

EntreGêneros: Como teve início o seu interesse pela escrita? Quais os autores que de alguma forma influenciaram seus poemas?

JC: Boa pergunta essa... kkk. Desde o momento em que senti que olhar para as coisas não bastava, tive que as descrever,  em vez de imagens passei a tentar descrever sentimentos mais complexos através de metáforas pois não  são quantificáveis através de simples conceitos.
Fernando Pessoa e Eugénio de Andrade.

EntreGêneros: Acompanho seu trabalho a um bom tempo e percebo que você gosta de sempre criar novas possibilidades para a amostragem de seus poemas. Fale-nos um pouco sobre esse processo criativo.

JC: Penso que a imagem, sentimentos e palavras são indissociáveis, tal como o som e o cheiro... infelizmente a internet ainda não nos permite transmitir essa sensação mas aproveito o que a tecnologia oferece para poder transmitir uma ideia que pretendo debater quando escrevo algo... portanto nada melhor do que lhe associar uma imagem e sempre que me é possível elaboro vídeos que melhor se adaptem ao contexto e aproximem quem o vai ler da minha própria ideia...
  

EntreGêneros: Aprecio muito seus vídeos e gostaria que nos contasse um pouco sobre como surgiu a idéia  de fazê-los? Como escolhe as músicas e as imagens?

  
JC: Como referi, os vídeos, com imagens, movimentos e música, dão uma ideia mais aproximada do que o autor quer transmitir... há sempre o factor tempo a ter em consideração e a intensidade da leitura que se deve adequar ao conteúdo do texto... a maior parte das vezes escolho apenas instrumentais para que não se confunda a letra com o texto... leio o texto várias vezes como se não fosse de minha autoria, escolho a música conforme a métrica e as imagens para cada sequência são a última acção desenvolvida...

  
EntreGêneros: A internet tem sido um meio difusor de grande valia em nossos tempos. Você percebe a manifestação de novos talentos no contexto literário? Poderia citar alguns autores que lhe chamem a atenção em particular? 

JC: Sim há grandes valores literários difundidos através da internet, como por exemplo a Ianê Mello (Risos) São Gonçalves, Anabela Pimentel, Ci Oliveira, Ana Coelho entre outros... mas nem todos os que escrevem trazem algo de novo... muitos escrevem bem mas não marcam a diferença, a outros a falta de humildade não permite que evoluam...


EntreGêneros: Tem algum projeto em andamento? Pode nos falar algo sobre ele?

JC: Neste momento não tenho um projecto isolado, mas se tudo correr bem para o ano farei parte de uma colectânea que é a segunda dum grupo de poesia a que pertenço há uns anos chamado TU CÀ TU LÀ, e serei também incluído num livro de duetos com mais 3 autoras portuguesas...


EntreGêneros: Fale-nos um pouco sobre você ( profissão, família, amigos, crença, sonhos... )

JC: Sou um pouco ermita, isolado no meu mundo que inclui neste momento quase só a família, os amigos contam-se pelos dedos mas os que tenho são verdadeiros... os chamados "virtuais" são imensos, principalmente do sexo feminino (risos), mas não sei explicar esta distinção de géneros na apreciação da minha amizade e poética, entretanto algumas quase parecem já fazer parte da família...
não creio em religiões mas acredito no espírito... a religião é criada pelo Homem, este foi criado por Deus, o tal que é energia, e só depois é que o Homem criou os seus "Deuses"... acredito também na ciência mas creio que existe algo muito para além da compreensão humana... essa crença é inspiradora e poética e não tem fim...
não tenho receio de mostrar o meu lado mais sombrio que atrai algumas pessoas e afasta outras, mas o negro sempre foi o melhor parceiro da cor, e onde ela mais se distingue...
quanto à minha profissão nunca a misturo nos meus assuntos familiares nem influencia a minha escrita... é um mundo à parte com que aprendi a lidar, pois a área da segurança leva-me a entrar em contacto com todos os estratos sociais e todo o tipo de ilícitos e injustiças, se não criasse uma barreira poderia ser influenciado psicologicamente e neste tipo de profissão uma mente sã é meio caminho andado para conseguir terminar a carreira sem sair lesionado...
quanto ao sonho espero nunca o alcançar para que me continue a inspirar na sua perseguição...

EntreGêneros: Termine com uma frase que acha que resume o ato de escrever para você.

JC: para mim escrever é um acto de necessidade, sem regras nem imposições, é uma amálgama de palavras que os sentimentos vociferam e para se fazerem entender organizam-se em frases que nos seduzem... é uma arte ao alcance de qualquer um, pois na falta de genialidade lanço palavras ao acaso e aguardo serenamente que formem palavras com sentido... é nesse aguardar que o meu espírito reside... (sorriso)





* JOSÉ CARLOS PATRÃO - POESIAS

13 comentários:

  1. JC, grande amigo-irmão, não podia faltar nesse meu novo projeto, com seu jeito tão peculiar de dizer versos que encantam, associados a vídeos incríveis em sua harmonia e beleza.
    Bela publicação, que nos revela esse lindo ser humano e poeta criativo e sensível.

    Obrigada, amigo.

    Grande abraço do lado de cá.

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  2. Gostei muito desta entrevista, pois fiquei a conhecer um pouco mais o homem para lá das palavras. E fico grata pela refeência ao meu nome, quem escreve tão bem como O JC Patrão e me intregra nas suas escolhas é para mim um bom motivo para sorrir.
    Beijos
    Ana Coelho

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  3. Já conhecia a sua atuação nas letras, agora através de videos e imagens associo tanta beleza que existe e o conteúdo que domina tão bem para nos amostrar o seu enorme bom gosto e conhecimento, além do sentimento maior "Ser Poeta".
    Seguirei o seu Blog com muito prazer, sempre com vontade de retornar. Um abraço Nan Noronha

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  4. Parabéns ao entrevistado e à entrevistadora! Gostei de ler, num conjunto coerente, aquilo que de certa forma já conheço do JC...
    Relevo: "para mim escrever é um acto de necessidade, sem regras nem imposições, é uma amálgama de palavras que os sentimentos vociferam e para se fazerem entender organizam-se em frases que nos seduzem..."
    Bom trabalho! :)

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  5. Muito bonito mas contudo sempre muito sereno , pensei talvez ver um sorriso mas como dizes o preto é a cor preferida e talvez daí esse ar sereno. Parabens para mim não é surpresa sempre te achei com muito talento e tenho a ideia que ainda tens muito para nos mostrar... Um grande beijo desta tua amiga virtual mas sempre atenta.. Gina

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  6. Um abraço e um beijo no seu coração. Linda e emocionante estrevista, adorei..Vem de sua alma!! Quem ama aquilo que faz, faz sempre com amor. Admiro-te! <3 Obrigada..

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  7. Que lindo poeta , tão original e tão profundo em tudo que percebe à sua volta ...
    Permite ,através de versos refinados, que seus admiradores mergulhem em fantasia e realidade .
    Parabéns pela alma de poeta !!!

    Abraços, Luafrodite

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  8. Há um misto de beleza, alegria, amor, elogio, sensação na poesia que são uma das formas mais antigas de expressão artística.
    A poesia assume muitas formas.
    Certo dicionário define a poesia como “a arte da composição rítmica, escrita ou falada, capaz de nos emocionar pela beleza, criatividade, e nobreza de sua mensagem”.

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  9. Parabéns JC! Continua a passar a beleza das tuas palavras que inspiram quem as lê.

    Desejo que esse teu dom possa ser partilhado pelo mundo inteiro pois na tua escrita encontrei o maravilhoso ser humano que és!

    Muita força e sucesso :) Beijinhos

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  10. Havia
    uma palavra
    no escuro.
    Minúscula. Ignorada.
    Martelava no escuro.
    Martelava
    no chão da água.

    Do fundo do tempo,
    martelava.
    contra o muro.

    Uma palavra.
    No escuro.
    Que me chamava.
    Eugénio de Andrade
    Parabéns..Encantada ..Glauciane Lourenço

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  11. Bela entrevista e é um prazer partilhar momentos poéticos de devaneio contigo João Carlos...:)

    Ci Oliveira

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  12. Gostei de ter encontrado aqui esta entrevista de um amigo que, na poesia, faz pensar.
    É verdade que me chegou através de um vídeo incrível do qual recordo a melodia da água no escuro da noite. No meio da escuridão era a poesia que fluía e como penetrava...
    Esta entrevista sublinha a ideia que constuí do JC. É ele!
    "quanto ao sonho espero nunca o alcançar para que me continue a inspirar na sua perseguição..."
    Faço minhas estas belas palavras.
    Um abraço JC

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