quinta-feira, 20 de outubro de 2011

ANA TAPADAS - POESIAS



Teia Luminosa

Que faremos no silêncio gelado,

Dos olhares que se cruzam...
E não sonham?
Que orquestra, que limiar?
Que fina aresta, que traçado?


Usam secretos sibilos, os arautos,
E caminham sobre a teia luminosa.
Incautos, porque sonham?


Protegida




Não devia, sem dar, fazer nascer o repartir,
Não devia vir onde me afasta o meu ir...
Este encontro nascido do regresso,
Esta alma nua a virar almas do avesso!


Não queria ser suave e ser ferro;
Não poderia ser o gérmen do erro.
Não queria fazer vergar se estou a vacilar,
Não podia partir no meu sentido ficar!


Meu Deus, isto que lanço, isto que invento,
Isto que é um aproximar, um pressentir,
Jamais veio de mim ou do meu intento!


Senhor, por que sou um não sei quê que faz sentir
Um desencontro de protegida dormindo ao relento?
Por que sou a perturbação de quem me pede p'ra sorrir?


Caía serena e mansa no cinzento do dia,
Como um sacramento húmido e puro!
Nem sei porque olhando eu bendizia
O clarão tardio de um ideal maduro.


Tingia-se de luz, qual fruto escuro,
Como um lamento de sol entontecia.
E, procurando na noite meu ideal duro,
A  irmã chuva no olhar me amanhecia!


Caiu serena em gotas de paz e tormento,
Desceu nas palavras suaves e medidas,
Inundou o meu deserto árido e sedento.


E em mim despontaram esperas perdidas.
Nem sei que ânsia de dar ou que momento
Me levou a desejar riquezas esquecidas!

O Excesso





Se chorar, dirás que sofro...
E, todavia, o céu telúrico.
E, todavia, os teus passos,
Os teus laços,
Tu...
O palpitar constante,
O ser difuso, divagante!
Não sei do espaço,
Perdi o tempo,
No momento
Em que tocaste o meu sonho!
A beleza, a nobreza...
O excesso e o reverso...
E, se te sonho e te quero,
Tu és a calma, a agitação
- o meu processo!
Se chorar dirás que sofro!
O habitual, o convencional...
Porém, há um hino divinal
E pássaros entram pelas vidraças,
Se me abraças...
E te perdes.




Resumo


Posso, finalmente, abrir os braços

E neles abarcar este mundo, este mar;
Falar-te das palavras pequenas e dos laços,
Que unem e libertam, bêbados de amar!


Dizer-te, com calma e sem protestar,
Que o eco divinal dos teus passos
Liberta a paz e o sonho de me dar
À força etérea de musicais compassos.


Neste eterno oscilar a música amo,
Da natureza de um ser o eco e perfume.
E, no antro da vida, procuro e clamo


Fugindo às cálidas manhãs e árido lume,
Porque os desejo e neles me derramo,
Posso dizer-te o Amor que o poema resume!


ANA TAPADAS - BIOGRAFIA

ANA TAPADAS - ENTREVISTA Nº 3




EntreGêneros: Como teve início o seu interesse pela escrita?

Ana Tapadas: Desde muito cedo comecei a brincar com as palavras. Escrevi o primeiro poema aos nove anos e tenho gavetas cheias de pequenos cadernos rabiscados com a caligrafia de muitas idades. Porém, que fique claro, não me julgo poetisa.

EntreGêneros: Quais escritores lhe influenciaram e em em que busca inspiração para escrever?

Ana Tapadas: Escrever é um impulso, uma pulsão, um acto de ruptura numa pessoa que se pretende assertiva e algo austera, como eu. Em mim é um vórtice, uma estranheza.
Li muito. A minha vida profissional, enquanto professora de Literatura, a isso me obriga, mas por mais autores que leia a minha paixão vai para: Antero de Quental, Sophia de Mello Breyner Andresen, Jorge de Sena e Eugénio de Andrade. 

EntreGêneros: Como você vê o (re) nascimento do interesse das pessoas pela leitura em suas novas formas de expressão literária ( como em blogs, sites, redes sociais e revistas eletrônicas) ? O que acha dos livros eletrônicos que tornaram livre o acesso através da leitura on line?

Ana Tapadas: O retorno à escrita é óptimo. Escrever é aprender a pensar e isso importa.
As redes sociais são tagarelas. Tenho FB, mas não aprecio a exposição, por isso removo as publicações e mantenho, somente, como forma de estar contactável. Considero os blogues uma forma mais válida e reflexiva. O e-book é excelente e acessível, embora não dispense o papel nem a magia de folhear e marcar com sublinhados.

EntreGêneros: Você acha que a Poesia está tomando um novo rumo nesse século XXI? Acha que as pessoas estão mais interessadas por esse gênero literário?

Ana Tapadas: No caso português a poesia é residual em termos de publicação séria e em papel. 
Eu tive um aluno que, para meu orgulho, é um escritor reconhecido (José Luís Peixoto), com obras em prosa traduzidas em várias línguas, mas a sua excelente poesia (para mim ele é melhor poeta que prosador ou dramaturgo) é menos conhecida e apreciada. Este um caso exemplar do rumo global da poesia neste século.

EntreGêneros: O interesse pelo conto, que tem ganho cada vez mais adeptos, em sua opinião se dá pelo fato de ser um texto breve e de rápida leitura? 

Ana Tapadas: Sabe que esse apreço pelo conto é uma coisa muito brasileira. Ainda bem, porque existem excelentes escritores contemporâneos de conto no Brasil. No ano passado coloquei em videoconferência o escritor bahiano Carlos Ribeiro, da ALB, e foi um sucesso deste lado do mar. Eu sempre apreciei contistas sul-americanos, como Julio Cortázar ou Jorge Luís Borges. 
Por aqui até Miguel Torga saiu dos programas escolares e saiu das prateleiras. Lamentável. 

EntreGêneros: Qual o  gênero literário de sua preferência para  construir seus textos ?

Ana Tapadas: Permita-me que responda a dois tempos: eu gosto de ensaio como forma de questionar seriamente o mundo, mas a minha prática preferida é a prosa poética. A versificação normativa, mesmo em verso solto ou branco e estrofe livre traduz sempre uma prisão para o discurso.

EntreGêneros: Você possui livros publicados? Quais os títulos?

Ana Tapadas: Não. Eu nunca tentei publicar nada, nem me ocorre fazê-lo. Não me julgo escritora, nem busco exposição. Sei olhar criticamente o que escrevo e tenho enorme pudor em publicar, mesmo num blogue, aquilo que escrevo. Admiti responder a esta entrevista por @mizade pura e simples.

EntreGêneros: Tem algum projeto em andamento? Pode nos falar algo sobre ele?

Ana Tapadas: Não, não tenho. Só o meu marido, também professor de Literatura e a minha amiga Gerana Damulakis acreditam dever publicar alguma coisa. Nunca pensei nisso.

EntreGêneros: Termine com uma frase que acha que resume o ato de escrever para você.


Ana Tapadas: Vou ser simples e sem teorias literárias: escrever organiza o meu mundo.



*ANA TAPADAS - POESIAS

VANESSA VIEIRA - Espaço Aberto aos Leitores







O estranho e conhecido olhar de uma rosa


Enfrente à janela do meu quarto fiz um jardim. E lá estão todas as flores que me são cativas.  De algumas, restam as raízes e as pétalas porque já se foram. Outras, chegaram no decorrer do tempo, e nem percebi que estavam por lá, mas estavam. E também existem aquelas que desde o início lá estiveram.
Meu jardim está repleto e gosto tanto dele que todos os dias, passo por lá para conversar com as minhas pequenas. Estamos sempre de encontro marcado.
Há alguns anos atrás, enquanto fazia meu passeio diário, me deparei com uma flor diferente. Sim, diferente como todas as outras são diferentes, mas era uma diferença especial. Ao mesmo tempo em que me trazia medo ela me trazia alegria e causava uma briga terrível em meus neurônios! Eu não conseguia olhar em dos seus olhos e muito menos além deles. Isso me apavorava!
Quem me apresentou a ela foi a flor Rachel, uma flor finíssima que em poucos jardins se pode encontrar.

- Seu nome é Rose!  - Me disse a Rachel antes de ir embora.

Algum tempo se passou e eu fui me acostumando com aquela nova flor em meu jardim, mas não me acostumava com aquele desconforto insuportável que eu ainda sentia.  Sempre fomos gentis uma com a outra e ela então... Agradabilíssima, mas eu... Eu ficava com o desconforto. 
Não conseguia me acostumar de verdade com ela, aquela rosa... Sim ela era (e ainda é) uma rosa. Ela era observadora demais e sempre me parecia que sabia mais sobre mim do que demonstrava. 
Depois disso, mais um tempo se passou e eu comecei a olhar para a Rose de outra maneira. Percebi que ela sabia sim, algo mais sobre mim, mas fui eu que dei as pistas que ela precisava. Acabei descobrindo que a Rose era diferentemente igual à Rachel. Ela é mais uma flor de fino porte que em poucos jardins se pode encontrar. 

- Quantos jardins precisam de flores iguais a essas... – Fiquei a pensar... E eu dei a sorte de encontrar duas!!

Sim!! Encantei-me com a Rose... E nos últimos dias até trouxe o seu vaso para mais perto de minha janela. Gosto de tê-la por perto. Agora, ao invés do medo ela me traz uma estranha segurança. Não me perguntem como ela conseguiu essa façanha, porque isso eu não sei explicar.
A única coisa que sei é que me sinto honrada de ter a Rosa Rose morando em meu singelo jardim.



AGITAÇÃO 


A alma do poeta está agitada
Sofre e não sabe  por que.
Pensa e não sabe em que
E por isso agoniza...

Até o deitar se torna difícil,
Pois os sonhos, de tão intensos, lhe parecem reais
e por isso lhe ferem... Machucam.

Não se conforma com a inquietação em que vive
e tantas são as vezes em que se revolta
Com a imensa poesia em que sua vida se tornou.

O mais certo porém, é que quando escreve se acalma.
As palavras lhe acalentam a alma
São músicas ao seu coração de poeta.
A caneta e o papel ( e as teclas também por que não?)
São seus maiores refúgios.
Não importa o que escreva ou para que escreva
Escrever apenas basta!
É isto que lhe acalma!



CARTA A UM DESCONHECIDO



Estava passeando pela rua quando te encontrei...
Te dei bom dia... Puxei assunto...
Você não me respondeu!
Fiquei te olhando...
Depois, segui minha viagem.
Alguns dias se passaram...
Novamente eu estava caminhando
E te encontrei no mesmo lugar.
Falei com você novamente,
Mas parece que você não ouviu..
Ou não quis me ouvir.
Te observei...
Olhei fixamente para você
Mas nem a um olhar você retribuiu...
Fui embora meio desconcertada,
E lá no fundo procurava entender seus motivos.
Afinal, você tem o direito de escolher as pessoas com quem fala. 
Fui andando pelas ruas
e os pensamentos sobre você e suas atitudes
inundavam minha mente.
Foi então...
Que encontrei uma pessoa
Alguém que prontamente respondeu ao meu sinal de “olá!”
E que estranhamente passava pela mesma situação que a minha
“Não correspondência”.
Fomos caminhando e conversando até que tivemos uma ideia

Pensávamos...
De que maneira poderíamos ser notados por vocês?
Por isso resolvemos escrever esta carta....
Para lhes dar bom dia e dizer que um olhar pode mudar muita coisa.
Bom...
Então...
Bom Dia!

Ass.: Alguém que você não se permitiu conhecer.





FAÇA AMOR COM AS PALAVRAS






Por esses dias encontrei um amigo que andava sumido
Perdido, entre as ruas da vida.
Fiquei encantada quando ele
Demonstrou sua, ainda, capacidade de me conhecer.
Eu estava cansada... triste...
Para dizer a verdade
Meus pensamentos andavam distorcidos
As palavras de mim fugiam...
Enfim...
Minha consciência estava um tanto quanto perturbada.
-Faça amor com as palavras!
Foi o que ouvi após, melancolicamente, 
relatar a ele  o que acontecia 
- Sim! Faça amor com as palavras!
- Como assim? Perguntei.
- Oh! Minha cara, essas coisas ninguém ensina
A gente aprende...
Dou-lhe apenas um conselho: 
-Ame loucamente as palavras e elas não fugirão mais de você!
Em seguida nos despedimos...
E olha só no que deu toda aquela conversa...
As palavras estão de volta
E brincam com meus pensamentos!
Aos amigos
Assis Freitas &
Primeira Pessoa!




Bio auto grafia do EU






Gostei do que vi agora não paro mais...
É minha liberdade, minha vida...Meu...
O jogo entre o que posso e o que devo
Entre o que sou e o que queria ser...
Entre os possíveis e os impossíveis...
Sim , este é o fato falado de mim,
Fato falado do que sou (?)
Partida (sempre)
Chegada (nunca)
Partida (constante)
Chegada (longe.... Longe...)
Ponto. Isso é o que sou.
O quê?
Não sei....
Apenas sou.






Esquecidos pés!








São eles que me sustentam
E me levam pelos caminhos da vida
E deles - muitas vezes – nem me dou conta.
Desde cedo queriam brilhar nos palcos clássicos 
Sustentando a bailarina,
 Mas não deixei... Não deixaram...
E com isso foram esquecidos.
Raras vezes foram cuidados com o carinho que mereciam
Viviam sempre no país dos esquecimentos...
E é por isso que recebem estes versos...
Para se definitivamente  lembrada sua importância 
E, além disso, da minha impossibilidade de viver sem eles.


Ps.: Poema dedicado aos meus pés de bailarina que nunca pisaram no palco.






Fúria do Silêncio da indignação






E agora... 
O descontentamento...
A fúria...
A indignação
Todos 
Contra o castigo que 
Eu mesma me dei...
Para que a cobrança...
Para que a vingança...
Para quê???
Minha voz é um estático
Silêncio involuntário
Razão do meu desespero
De minha angústia...
A voz que é bela não sai
E não contente com isso
Deixa o seu espaço para aquela
Que muito pouco merece...
A vergonha...
Ah descontentamento, fúria e indignação...
Movam! Movam meu silêncio!!!






Parei com as obediências!






E agora um basta!
Chega desta história de vem aqui ou vai ali,
E eu vou
Pense assim ou assado
 e eu penso.
Faça isso ou aquilo
 e eu faço!
Parei...
Não vou por ai, 
Não farei mais o que mandarem 
E muito menos pensarei assim 
Do jeito que querem.
Cansei....
Vida é coisa séria
E fica muito mais séria 
Se não tomamos conta dela direito.
Farei o que meus pensamentos mandarem 
Irei por onde meus sentimentos me guiarem
E ouvirei sim, a vocês, 
Desde que vocês me convençam 
De que assim devo proceder...
Enquanto isso não acontece....
Parei com as obediências!



Biografia:


Vanessa Vieira é educadora e graduanda do curso de Pedagogia. 
Aos 12 anos deixou-se encantar pela poesia e pelas crônicas,
ingressando em um caminho sem volta... 
Foi fisgada pelas palavras.
Seus textos são publicados no blog Pensamentos valem mais que ouro,
Blog que criou quando tomou coragem de tonar pública suas indagações.

Contato: v.vgvieira@hotmail.com


Blogs onde escreve:  





Vidráguas (Grupo no facebook) 

domingo, 16 de outubro de 2011

ADRIANO NUNES - ENTREVISTA N° 2





Entregêneros: Como teve início o seu interesse pela escrita? Quais escritores lhe influenciaram e em em que busca inspiração para escrever?


ADRIANO NUNES: Quando criança, a música foi o meu primeiro contato com a Poesia. Não me lembro de ter estudado algum poeta na infância. Para mim, Poesia/Poema eram as letras das canções. Então, os meus poetas eram músicos. Comecei a escrever poemas, possivelmente, aos cinco ou seis anos de idade, quando ainda morava em uma cidade do sertão alagoano chamada Pão de Açúcar. Eram versos simples, rimados, sem nenhuma pretensão artística. Não entendia como aquilo surgia em minha mente e porque queria estar no papel. Talvez, fosse como se encenasse um teatro, essa brincadeira de inventar personagens, de criar situações, de compor certas canções ao acaso, muito comum nessa idade.

A mudança da cidadezinha para a Capital, quando eu tinha uns oito ou nove anos, trouxe nova luz para a minha vida. Morávamos em uma casa alugada, próxima ao SESC onde havia uma biblioteca. O primeiro poeta que entrou em meu mundo, em minha infância/pré-adolescência foi Fernando Pessoa. A paixão por tudo aquilo que eu li/memorizei dele viria a se confirmar depois com o porvir. Não entendia como alguém tinha sido capaz de escrever aquilo, como se desdobrava em outras pessoas. 

Nova mudança de lar. O aluguel da casa agora era um estorvo. Como meus pais, à época, estavam sem condições financeiras para custear estudos, aluguel e tudo o mais, decidiram transformar o nosso lar em uma pensão familiar, assim pagariam as despesas da casa e nada nos faltaria. Na pensão, vim a conhecer o poeta alagoano Jurandir Mamede, um poeta revolucionário moldado de acordo com a ideologia cubana e soviética. Foi a ele que mostrei, pela primeira vez, o que eu escrevia... E não sei dizer o porquê, mas ele gostou do que leu.

Com a amizade de Jurandir, veio a avassaladora atração pela Poesia, por tudo que ela representava. Acompanhei-o em quase todos os eventos dos quais ele participava e terminei por conhecer e conviver com os poetas alagoanos dessa época, principalmente, os mais rebeldes, os boêmios. Ia inclusive a programas de rádio recitar poemas, meus, de Pessoa, dos poetas russos, dos loucos alagoanos, enfim, o programa O Brilho da Cidade, da Rádio Gazeta de Alagoas, rendeu-se ao encanto de uma criança com apenas dez anos de idade. Fui ao lançamento do primeiro livro de Jurandir, o "O Ocaso Não É Por Acaso" e lá também recitei poemas. Estava ficando cada vez mais ligado à Poesia.

Arnaldo Antunes me levou a conhecer os concretistas e a amá-los. Fase de grande admiração por Caetano, os Titãs, Péricles Cavalcanti e Adriana Calcanhotto. Antonio Cicero ainda não tinha entrado em minha vida, via o nome dele nos encartes dos discos, mas não sabia quem era e o que era. Devorei, nos primeiros anos de Medicina, toda a poesia de Pessoa e dos concretistas. Sabia de cor as "músicas concretas".

Ainda não tinha dinheiro para ter livros e a biblioteca da UFAL era o meu baú secreto de tesouros, nas horas vagas. Conheci, a partir desse momento, Manuel Bandeira (passaria a ser o meu poeta preferido depois de Pessoa), Drummond, João Cabral, Mário Quintana e os simbolistas. Augusto dos Anjos me atormentava e eu gostava e ainda gosto muito da sua poesia.

Na metade do curso, os tempos eram outros (financeiramente e literariamente): já falava e escrevia em inglês. Passei a ler então os poetas ingleses: keats, Yeats, Shakespeare e o maior de todos, para mim: Walt Whitman! Shakespeare e Whitman influenciaram Pessoa muito e eu tinha como obrigação lê-los, entendê-los e amá-los, pois amava Pessoa. Aí, aconteceu outro drama-cômico: comecei a gostar desesperadamente de ler prosa (não citarei os autores porque foram e são muitos... E aqui o que mais me interessa é mesmo a Poesia). Shakespeare ocuparia, em prosa, a partir daí, o lugar que Pessoa ocupa na poesia.

Os poetas franceses também me influenciaram muito: Baudelaire, Verlaine e Arthur Rimbaud. Sou médico e poeta. Admirador de Antonio Cicero, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos, Augusto dos Anjos, Baudelaire, Borges, Caetano Veloso, Camões, Drummond, Décio Pignatari, Eucanaã Ferraz, Fernando Pessoa, Glauco Mattoso, Haroldo de Campos, Horácio, João Cabral de Melo Neto, Jorge de Lima, José Paulo Paes, Lêdo Ivo, Lorca, Manuel Bandeira, Mário Quintana, Nietzsche, Nelson Ascher, Paulo Leminski, Paulo Henriques Britto, Pound, Rilke, Régis Bonvicino, Shakespeare, T.S. Eliot, Walt Whitman, Waly Salomão, Wilde, Yeats... As minhas madrugadas são assim.

Não me prendo à regra nenhuma e a nenhum processo de criação. Se quero fazer um poema concreto, faço-o. Se penso em um soneto, construo-o. Uso as técnicas todas porque todas me são acessíveis. A mágica é não pertencer a tempo algum e ser, ao mesmo tempo, clássico, rebelde e experimentalista. Gosto do visual e do impacto que uma palavra é capaz de causar em um poema, por isso aprecio os ritmos, a métrica, os sentidos e estudo como poderia tornar (o poema) cada vez melhor, apesar da minha ansiedade de expô-lo urgentemente ao público.


Entregêneros: Com que gênero literário mais se identifica na construção de seus textos?


ADRIANO NUNES:  Poesia, claro. Mas leio muito Filosofia e os Clássicos.

Entregêneros: Como você vê o cenário poético no atual contexto literário?  Acha que está havendo uma maior valorização da poesia?


ADRIANO NUNES: As pessoas estão lendo mais poesia. A internet contribui para isso. Poetas vêm ganhando destaque no mundo. O Prêmio Nobel deste ano foi para um poeta, o escritor sueco Tomas Tranströmer.


Entregêneros: A internet tem sido um meio difusor de grande valia em nossos tempos. Você percebe a manifestação de novos talentos no contexto literário? Poderia citar alguns autores que lhe chamem a atenção em particular? 


ADRIANO NUNES: Na internet, você pode encontrar de tudo. Lá, têm-se bons poetas assim como pessoas que pensam que são poetas porque acham que tudo que escrevem em verso é Poesia. Aprecio alguns poetas que publicam em blogs, mas sou bastante seletivo.


Entregêneros: A que fato você acha que se deve a dificuldade encontrada pelos autores na publicação de um livro? Você tem algum livro publicado?


ADRIANO NUNES: Não tenho livros publicados, mas já fui publicado em antologias aqui em Alagoas e em livros de amigos meus alagoanos. 
Creio estar bem mais fácil lançar livros, sejam de poemas ou de quaisquer temas. Ano que vem, pretendo lançar um livro com alguns poemas já publicados e outros inéditos. Livros são essenciais. A internet não tem como ocupar o lugar deles.


Entregêneros: Tem algum projeto em andamento? Pode nos falar algo sobre ele?


ADRIANO NUNES: Em 2012, lanço o meu primeiro livro de poemas cuja capa já está exposta em meu blog e que foi feita por meu amigo, o artista plástico Gal Oppido. Em 2013, pretendo publicar um livro de contos.


Entregêneros: Termine com uma frase que acha que resume o ato de escrever para você.


ADRIANO NUNES: Poesia é acertar na trave.


ADRIANO NUNES - POESIAS

ADRIANO NUNES - POESIAS



  

"Minha Arte" 




a qua (se tudo, 
é dada) 
e qua (se tudo, 
é nada) 




e quan (do tudo, 
é tida) 
e quan (do tudo, 
é lida) 




enquan (to da 
arte é) 
enquan (to da 
vida é) 




a qua (se nada, 
é mito) 
e qua (se nada, 
é dito)


"de repente" - Para Augusto de Campos.


r )))))))))))))))))))))))))))))))))))))) e
r a))))))))))))))))))))))))))))))))))))t e
r ap)))))))))))))))))))))))))))))))))nt e
r api)))))))))))))))))))))))))))))))ent e
r apid)))))))))))))))))))))))))))ment e
r apida))))))))))))))))))))))))ament e
r apida mente)(capta)(rapida mente
r apida))))))))))))))))))))))))ament e
r apid)))))))))))))))))))))))))))ment e
r api))))))))))))))))))))))))))))))ent e
r ap))))))))))))))))))))))))))))))))nt e
r a)))))))))))))))))))))))))))))))))))t e
r ))))))))))))))))))))))))))))))))))))) e






"a não ser, a vida" - Para Fred Girauta






o
qu
e ac
resc
entar
à vida a
não ser a
vida a não
ser mais vi
da a não ser t
oda a vida a nã
o ser toda esta
vida a não ser qu
alquer outra vid
a a não ser algo que
conforte a não ser a
morte a não ser amor




Olvido




Esquece Helena
Esquece o mundo
Esquece a fundo
Esquece a pena


Esquece o verso
Esquece o susto
Esquece, é justo
Esquece emerso


Esquece mesmo
Esquece o rumo
Esquece o sumo
Esquece a esmo


Esquece a Grécia
Esquece a luta
Esquece-a! Custa?
Esquece a astúcia.




Dez para dez


    para Antonio Cicero




Dez para dez. Talvez,
Baco apareça aqui,
No bar. Sem timidez,
Prove do vinho. A qui-


Mera mágica é ver-
Ter tudo em bel prazer,
Em vertigem, em ver-
So, pra satisfazer


O corpo antes de ser
lançado à dor, ao pó
Das horas, desse nó.


O que mesmo vai ser?
E de nada se ser-
Ve. O tempo passa só.




SONETO IV




O PENSAMENTO
PESA O POEMA.
POR QUE SUPÕE
SER ASSIM LEVE




COMO UMA PENA?
POR QUE SEQUER
NADA PONDERA
OU PRINCIPIA?




O PENSAMENTO
É MESMO CEGO.
POR QUE NÃO VÊ




QUE SÓ O POEMA
TUDO SUPORTA,
TUDO SUSTENTA?






ADRIANO NUNES - BIOGRAFIA