Homenagens

Homenagem a Drummond (24 anos de despedida)

Lembremos nesse dia D, dia de Drummond, do nosso grande poeta itabirense, que completaria 109 anos:


Inocentes do Leblon


Os inocentes do Leblon
não viram o navio entrar.
Trouxe bailarinas?
trouxe imigrantes? 
trouxe um grama de rádio? 
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem.


ANDRADE, Carlos Drummond de. "Sentimento do mundo". In:_____. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2002. 


                                             

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
(Carlos Drummond de Andrade)



                                               

Drummond - Mundo Grande




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POEMAS DOS AMIGOS EM HOMENAGEM A DRUMMOND


Mensagem ao Meu Poeta maior de Todos:Carlos Drummond de Andrade


Poeta, meu pai
sem nunca ter sabido
não importa sua filha soube e muito bem!
Oh meu anjo direito
nunca fostes torto
foste um homem humano de primeira linhagem
Confessional na medida certa
sentidor sem igual
Ah meu fininho como sempre te chamei
Ouvi muitas e muitas vezes tuas Vozes sibilantes em meus ouvidos
Quantas noites sem importância tornastes importante para mim
Varei dias te lendo, te compondo e enfim..te conhecendo!
Oh grande mestre das letras, das linhas exactas
das belezas raras descritas
Ufânico,conhecedor de VIDA, e de MORTE
quanta sorte a minha ter-te sido filha, e amante onírica
Oh grande fluminense da orla
me sentei ao teu lado sempre na ponta do banco
me vistes muitas vezes..
vendo a incoerência dentro de mim
e sabendo da sapiência que estava a caminho
Meu pai, meu tio e meu avô
De saudades nunca morrerei
porque Tu me destes o que busquei a vida inteira, a hora inteira, o tempo inteiro
A palavra contextualizada na rua, no cotidiano do mundo em evolução
bem alí..na palma da nossas mãos!

Drummond-vida.


Giselle Serejo 



não tinha uma pedra no meio do caminho



Andei a procurar pedras
não tinha nenhuma que eu pudesse contar
Drummond tirou-as todinhas
junto e jogou no seu caminho
só para dizer que eu era
a flor do caminho dele, sua filha mais querida
a índiazinha misturada
toda gauche
e Ele a senha do meu mundo!

Giselle Serejo para MEU PAI.




A PEDRA DE SER CANTO




Adélia vê na pedra de Drummond
O olhar generoso sobre as coisas
Ana C. diz que no meio do caminho
A pedra do poeta é o time
Que você tira de campo

Viver é uma espécie de cansaço
Ainda que Cabral a cante à palo seco
Sem lira sem romance sem vinho
De nascença uma pedra
A alma estranha de ser canto

E mesmo sem régua que sou vento
Eu olho para a pedra em silêncio
De ser pedra e não sentimento
Sei que da montanha carrega
Uma espécie de remanso

A pedra no meio do caminho
Como alguém em perdido descanso



Guerá Fernandes




Drummond 
du monde
drums of poetry
dum monte
dum mundo
dreams of mountain
das Minas
de todos
de nós


Joe Canônico




Rosa dos sonhos 
acordou Drummond em nós
e, para sempre 

Lou Albergaria




Lendo seus versos
Sinto o cheiro do gênio
aqui ó, no fogão à lenha 

Borbulhando de lirismo, e
Ironias

A humanidade torpe
É cozida em seus medos...


Poeta escaldado não tem medo de água quente!


Lou Albergaria



Conversa com Drummond

O quanto você riria, poeta
um riso frouxo e feliz
de ver sua estatueta
em plena praia de copacabana
você, mineiro de Itabira,
tendo a seu lado, simplório,
debaixo de pleno sol,
sem pruridos ou vergonha,
sem com nada se importar,
homem de origem simples
sentado a conversar
vai se saber que prosa
ele está a entoar
mas parece animado
de contigo prosear! ...

Há, como ririas, poeta,
ao ver seus pequenos óculos,
aquele mesmo com que lias
ser retirado na madrugada
sabe-se lá com que intuito
por uma pessoa qualquer,
e, ao amanhecer, numa faixa,
você riria ao ler: 
"não roubem meus óculos,
leiam meus livros" !

Mas que povo engraçado,você certamante pensaria,
roubar um óculos
apenas por puro prazer
já que nem serve para ler!Querido poeta, que saudade
de seus versos que universos
desvendaram para mim
em meu coração permaneces
mineirinho de itabira
e com carinho me recordo:

"Vai, Carlos! ser gauche na vida."


Ianê Mello

   

ONDE ESTÁS


Sob o véu da simplicidade
Onde tu estás agora, Mestre?
Teus versos são declamados,
Tuas formas copiadas,
Teu Universo é explorado,
Oh, poeta amado!
Teu formalismo debochado
Nos enche, de alegrias...
Tua irreverência com elegância
Conduz o universo das palavras
Compondo um novo vocabulário
Deixando para nós Brasileiros,
Uma linda herança literária.
Salve, salve...
Carlos Drummon de Andrade!
Onde tu estás agora, Mestre?


Jana Valentina 



no meio do meu caminho
o poeta partiu
foi drummondiar estrelas


Ydeo Oga


E AGORA JOSE ?

VC QUE DESEMBOCA EM QUALQUER FOZ DE RIO
VC QUE Ñ SABE CORRER PRÁ INTERNET
VC QUE É FILHO DESSA MESMA ''FAVELA''
VC QUE Ñ FOGE DE NENHUMA LUTA

VC QUE É DE FERRO JOSÉ
VC QUE ENFERRUJA

QUER MORRER EM MAR TRANQUILO ?
MAS ISSO É NA LUA
QUER IR PARA UMA TRIBO
MAS ÍNDIOS Ñ HÁ MAIS

MAS VC É DURO JOSÉ 
E VC MORRE JOSÉ
E APODRECE


Jose Eduardo Ferreira Caetano



agora josé? lê drummond


tinha uma pedra
no meio do caminho
o tempo passou
a chuva caiu
a ribeira encheu
o caminho
onde tinha uma pedra

o tempo não passou
o carlos também não
só passa com o tempo
quem não foi no seu tempo
drummond foi imenso
mais que uma pedra
drummond foi um rochedo
uma selva, um mar

drummond deixou-nos
mas nós não deixamos drummond
até nos deixarmos também

salve drummond
que me deixas interrogando-me:
e agora josé?
que me deixas por te ter lido
vivido, sentido

agora josé?
continua a ler drummond


Antonio José Cravo 

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Homenagem a Mia Couto   


Vencedor do Prêmio Eduardo Lourenço 2011.
Atribuído pelo Centro de Estudos Ibéricos.




Pequena Biografia


António Emilio Leite Couto, mais conhecido por Mia Couto, biólogo e escritor de profissão, nasceu a 5 de Julho de 1955, no seio de uma família portuguesa assentada en Moçambique, na cidade da Beira, Província de Sofala. 
Depois da Independência Nacional, em 1975, ingressou na atividade jornalistica e foi sucessivamente diretor de diversos orgãos de comunicação social.
Abandonou a carreira jornalística voltando a ingressar na Universidade para, em 1989, terminar o curso de Biologia, especializando-se na área de Ecologia. A partir daí mantém uma colaboração dispersa com jornais, cadeias de Rádio e Televisão, dentro e fora de Moçambique.
Como biólogo tem realizado trabalhos de pesquisa em áreas diversas, com incidência na gestão da zonas costeiras e na recolha de mitos, lendas e crenças que intervêm na gestão tradicional dos recursos naturais. Trabalha atualmente como consultor permanente da empresa de Avaliações de Impacto Ambiental, IMPACTO Ltda.
É professor da cadeira de Ecologia em diversas Faculdades da UEM - Universidade Eduardo Mondlane.
Mia Couto é considerado um dos nomes mais importantes da nova geração de escritores africanos de língua portuguesa. A escrita tem sido uma paixão constante, desde a poesia, na qual se estreou em 1983, com A Raiz de Orvalho, até à escrita jornalística e à prosa de ficção. 
Vencedor de vários prêmios, tais como: Prêmio União Latina de Literaturas Românicas 2007 e Prêmio Vergílio Ferreira 1999, tem a sua obra traduzida em alemão, castelhano, francês, inglês, italiano, neerlandês, norueguês e sueco.
É hoje o autor moçambicano mais traduzido e divulgado no estrangeiro e um dos autores estrangeiros mais vendidos em Portugal (com mais de 400 mil exemplares).
É o único escritor africano que é membro da Academia Brasileira de Letras.



Entrevistas e Poemas Recitados














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Livros






Terra Sonâmbula foi o primeiro romance de  Mia Couto, já bem conhecido e apreciado pelo público português. Tem como pano de fundo os recentes tempos de guerra em Moçambique, da qual traça um quadro de um realismo forte e brutal.

Dentro deste cenário de pesadelo movimentam-se personagens de uma profunda humanidade, por vezes com uma dimensão mágica e mítica, todos vagueando pela terra destroçada, entre o desespero mais pungente e uma esperança que se recusa a morrer.












Vinte e Zinco é uma estória atípica em que é mostrado como o 25 de Abril de 1974 foi vivido em Moçambique, uma vez que não foi um ano de liberdade para os moçambicanos. Tem como pano de fundo a cultura africana.
Mia Couto traz, a cada personagem, a cada página,  o passado ao presente e a catapultá-lo no futuro – a identidade moçambicana a imergir da necessidade de esquecer a guerra e os maus momentos do colonialismo.



Para rematar, um pequeno poema, que Mia Couto assegura pelas mãos de Irene, a tia:



«que a bala do corpo se retire

num disparo ao avesso se desvire

e o sangue aberto se arrependa
e retorne ao leito de onde escorreu
Que, enfim, a espingarda seja morta
e se escreva na campa deste tempo:
– Aqui jaz a bala
sentenciada por mandato
da vida contra o Homem.»



Pensamentos e Poemas


"Quando já não havia outra tinta no mundo o poeta usou do seu próprio sangue.
Não dispondo de papel, ele escreveu no próprio corpo.
Assim, nasceu a voz, o rio em si mesmo ancorado.
Como o sangue: sem voz nem nascente."

"A nossa língua comum foi construída por laços antigos, tão antigos que por vezes lhes perdemos o rastro."

"Cada um descobre o seu anjo

tendo um caso com o demônio."


"Horário do Fim 


morre-se nada 

quando chega a vez 


é só um solavanco 


a estrada por onde já não vamos 


morre-se tudo 

quando não é o justo momento 


e não é nunca 

esse momento"




"Fui Sabendo de Mim 

Fui sabendo de mim 
por aquilo que perdia 


pedaços que saíram de mim 
com o mistério de serem poucos 
e valerem só quando os perdia 



fui ficando 
por umbrais
aquém do passo 
que nunca ousei 



eu vi 

a árvore morta 

e soube que mentia"


"SER,PARECER


Entre o desejo de ser

e o receio de parecer

o tormento da hora cindida



Na desordem do sangue

a aventura de sermos nós

restitui-nos ao ser

que fazemos de conta que somos."


"BIOFAGIA



É vitalício: comer a Vida

deitando-a entontecida

sobre o linho do idioma.



Nesse leito transverso

dispo-a com um só verso.


Até chegar ao fim da voz.

Até ser um corpo sem foz."




            

Leiam em Benfazeja - Entrevista com Mia Couto




HOMENAGENS DOS AMIGOS DO FACEBOOK - GRUPO LIVRE CRIAR É SÓ CRIAR








Moçambique chama...


" A vida é demasiado preciosa
para ser esbamjada num mundo desencantado."

Mia Couto, in Jerusalém



Moçambique clama por suas palavras
por sua presença amorosa
pela visão de seus olhos profundos:
olhos da infância querida.

Clama por aqueles dias
dias de intenso viver
em que o tempo era infinito
e a esperança sorria em seus lábios


Você que teve no medo seu primeiro mestre 
temendo monstros, fantasmas e demônios
só conhecendo os anjos tempos depois
quando vieram para guardar sua alma

Você que crê no amadurecimento da dor
em seu intenso sentir, corpo e alma,
para que se dilua no correr do tempo infinito,
no choro que escorre dos olhos em lágrimas sentidas

Você que com o próprio sangue escreveria
e até mesmo em seu próprio corpo,
caso tinta e papel não houvessem,
mas não calaria a sua voz jamais

Você, que cantou a África, em versos, 
como tradutor fiel de suas dores,
dando voz ao seu silêncio negro,
transmutando morte em vida. 


Ianê Mello, em Homenagem a Mia Couto.



   "A maior desgraça de uma nação pobre
 é que em vez de produzir riqueza,
produz ricos."
                                                                    Mia Couto

Mia Couto grande escritor
Que na escrita põe amor
E tem sentimentos nobres
Verbera certas nações
Que por desgraça e acções
Em vez de ricos, faz pobres  


Joaquim Vale Cruz



 A VOZ DO CAMPONÊS


Escrevo
nesta nuite preta e alongada
para merecer a voz da terra,
da terra verde que o o océano beija.

Sou
a amadrugada mâo do camponés,
amadurecida ao sol que queima:
-lume,fogo,cinza,sangue-.

Sou um simples tradutor de silêncios
coma o coraçâo da terra na que moro,
ouh África negra!,
berro
exprimindo ausências,
drama intenso,
dedos nos que crescem rosas.


Antom Laia Lopez




Palavras...

De um lugar esquecido
Num mundo à parte,
Ainda que menos que antes.
Acha-se o saber enjaulado
Motivo de batalha,
E alguma desesperança.
E em luta arrebatada,
Tentando emergi-lo com garra
Fala aquele que em palavras,
Sobre este povo decanta.
E nas vozes de lindos versos
Prosas, escritos e palavras.
Glorioso em vários mundos,
Pelo que bem sabe fazer.
Expõe, explica e propõe 
O que parece esquecido, 
E provável solução.
E explanação,
Tão premente e fidalga.
Suscita o saber
Aos povos do Mundo.
E enseja sua evolução... 
E talvez, nem tão rápida,
Porém, necessária! 
Declama a verdade urgente:
Para que larguemos,
Os sapatos sujos! 
E libertemos os filhos do Mundo!

Valéria Daiha.





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