sexta-feira, 18 de novembro de 2011

PEDRO BELO CLARA - ENTREVISTA Nº12




EntreGêneros: Fale-nos um pouco de sua origem. Sua infância em Portugal, seus estudos, seus sentimentos, sua trajetória de vida, os fatos e vivências que o fizeram tornar-se a pessoa que és.

Pedro Belo Clara (PBC): Nós somos, acredito, o resultado de todas as nossas experiências passadas e definimo-nos em nossas decisões e atitudes. Sou hoje aquilo que ontem vivi e aprendi. Nasci em Lisboa, no Outono de 1986, no seio de uma família pequena, mas unida. Estive até aos meus 17 anos em casa de meus avós e, em todos esses anos, convivendo com pessoas mais sábias e maduras, uma parte de meu carácter foi moldado a essa imagem. Seguiram-se os belos tempos de faculdade, onde me formei em Gestão de Empresas, e, posteriormente, uma pós-graduação em Marketing e Comunicação. Apesar de tudo, nunca me senti atraído pelo mundo empresarial. Assim sendo, terminadas essas etapas, decidi dedicar mais tempo à minha escrita. Actualmente, equilibro-a juntamente com a minha actividade de Formador. Note que é complexo descrever assim todas as peripécias de uma existência! Devo reservar-me às principais etapas… E por todos estou grato. Mas muitas mais ainda virão, é claro. E sei que, se nos dispusermos a tal, seremos mais sabedores hoje do que ontem fomos; mas não tanto quando amanhã ainda seremos. É uma aprendizagem contínua. 

EntreGêneros: Como e quando descobriu-se enamorado pela escrita. Sentiu-se muito influenciado pelos seus conterrâneos poetas portugueses, como Pessoa, por exemplo?

PBC: A génese da minha relação com a escrita está relacionada com a música, curiosamente. Ainda adolescente, como tocava violão e tinha uma banda (se é que se poderá chamar de “banda” a um grupo de rapazes, musicalmente inconscientes, que nem lugar certo tinham para ensaiar), decidi explorar os campos da composição. E assim compus cerca de catorze temas. Um dia, quase sem dar por isso, estava a escrever poemas… Foi um processo bastante fluido, natural… Como acontece com os grandes amores. Só mais tarde, já com 16/17 anos, frequentava eu o 12º ano de escolaridade (sistema de ensino português), é que tive um verdadeiro contacto com os grandes Poetas, durante minhas aulas de Português. Na verdade, quando criança, nem gostava de ler! Só banda desenhada (quadradinhos)… Talvez tudo fosse diferente, se tivesse descoberto a Poesia durante a minha tenra idade. Hoje, tenho vários Poetas conterrâneos que me servem não só de inspiração mas também de aprendizagem: Alberto Caeiro e seu criador, Fernando Pessoa, Cesário Verde, Ruy Belo, Sophia de Mello Breyner, entre muitos outros. 


EntreGêneros: "A espera, o período de passividade, é um ardil complexo de entender e de assumir, nem que seja pela sensação de que algo nos escapa e de que estamos imersos numa tortuosa escuridão." Esse trecho foi retirado do texto "Etapas e desafios", postado de seu blog. 
Sentir-se imerso na escuridão é um dos medos universais. Até que ponto os temas que envolvem as emoções humanas são tratados em seus textos? O que seus escritos tem de confessional? 

PBC: Para eu escrever sobre algo, para partilhar um pensamento ou ensinamento, tenho de passar por essa etapa, sentir a doçura ou a amargura daquele sentir e ascender, rumo ao meu amanhecer sentimental. Não faria, para mim, sentido se fosse de uma outra maneira. Estaria a ser um autor dissimulado, enganador. Sinceramente afirmo que não escrevo pela Arte; escrevo por Amor à escrita e para meus leitores, sejam eles quem forem. Para que saibam que há alguém que é como eles, alguém que ama e sofre como eles, alguém que fala para eles, no meio de todos eles. Escrevo porque sempre senti que tinha algo a dizer aos Homens. 


EntreGêneros: Além do escuro, o silêncio também pode ser considerado um medo universal. Através do poema, o poeta interrompe esse silêncio e nesse processo lida com o branco da folha de papel (ou da tela do computador). Alguma vez já te deu "um branco", um bloqueio na hora de escrever?

PBC: Fala que a Treva é um medo universal… Concordo, mas aproveito para relembrar: da Treva nasce a Luz. Por vezes, de tão imersos que estamos em nossas inquietações, esquecemo-nos que existe sempre uma saída, mesmo que não a consigamos ver. E, para mim, o silêncio é uma verdadeira bênção… Mas respondendo à sua pergunta, devo dizer que tais momentos, apesar de não serem inéditos, são escassos para mim. Escrevo apenas quando sinto a ‘Poesia’ ou a ‘Mensagem’ de um texto ou conto a vibrar em mim. Se os sentidos se aquietam, não escrevo. Conduzo-me por processos simples… Para complexidades já bastam as da mente!...

EntreGêneros: "Como somos jovens e imaturos, em termos de consciência, e como estamos ainda a aprender as artes deste sublime sentimento… Todo o Caminho é um palco de aprendizagem e de ensinamento, mas quantos conflitos não já se geraram pelo Amor se encontrar extinto ou banido das vidas daqueles que os incentivaram? Quanta ira, ódio reprimido ou angústia, existirá nos corações de quem se fechou ou de quem nunca tocou no semblante do Amor?" 
Belo trecho de seu texto " Ausência de amor". Percebe-se que o amor é para você um sentimento nobre e que se aprende e exercita ao longo da vida. Fale-nos um pouco sobre o amor e como ele faz parte de sua vida e de seu processo de criação.

PBC: O Amor une os Homens, mas muito poucos estão dispostos a aprender com ele. É necessário empenho – perder hoje para triunfar amanhã – e humildade para reconhecer nossos erros e falhas. Quem tenta, acertará um dia. O Amor é a resposta de tudo, o Amor é a saída, o Amor é uma flor selvagem e frágil, o Amor é Luz. Mas não existe Amor sem dedicação, sem Tempo… Eu crio por Amor e tento viver pelo Amor. Não é fácil, mas é deveras gratificante.

EntreGêneros: Em seu texto " A derradeira viagem" você aborda o sentimento de perda. Assim você diz: "No entanto, mais cedo ou mais tarde, sabemos que irá eclodir a hora em que tais indivíduos, estando ou não fisicamente mais próximos de nós (pois tal não é realmente significativo), partirão até terras distantes, paragens longínquas a toda a material percepção, empreendendo, por fim, a mais arrojada de todas as suas viagens, aquela que, por curiosa constatação, será igualmente derradeira (pelo menos, durante uma específica fracção de tempo). Este acontecimento é deveras inevitável, e todos aqueles que um dia decidiram realizar a tamanha empresa, sabiam de antemão que chegaria à hora em que suas presenças iriam ser reclamadas por seu lar, o seu verdadeiro lar."

Muito interessante a sua colocação, que me remete a questão do processo reencarnatório. O que pode nos dizer sobre isso? Você crê na reencarnação? Se crê, baseado em que doutrina ou filosofia?

PBC: Sim, creio plenamente. Li e discuti diversas teorias, ideias, propostas, mas… Mantenho uma linha de pensamento próprio. Pode parecer estranho, mas sinto que assim é; creio porque, para mim, todo esse processo faz sentido. Vejo este mundo como uma escola; nele, todos nós aprendemos, experimentamos. Somos pedaços de um Sol Maior que experiencia a matéria aqui, neste belo Planeta. Muitos mais aspectos (karma, resgastes, etc.) prendem-se com estas questões e eu não pretendo divagar. Somente sinto em mim uma intuição que me faz crer, que me faz ver essa hipótese como verdadeira. Não faz sentido uma vida mortal vazia e sem propósito. Há algo superior… E o processo de reencarnação é apenas um de seus vários constituintes. 

EntreGêneros: "Tenho, numa determinada prateleira de minha emadeirada estante, três livros: o mantido, o lido e o vivido", você confessa em seu texto " Os três livros", comparando o caráter desses três livros com a forma como cada pessoa se posiciona em sua vida. Comparação bem interessante. Fale-nos mais um pouco sobre ela e  diga-nos qual dos três livros você seria?

PBC: Penso que todos gostaríamos de ser um ‘livro lido’, lido apenas. Sem as marcas do tempo, as feridas que rasgam nossa pele e cravam em nós uma dor que se ameniza com o passar das estações. Mas, verdadeiramente, devemos ambicionar ser um ‘livro vivido’. Eu, apesar de tudo, desejo ser um dia um ‘livro vivido’. Em cada manhã faço para que assim seja. No fundo, essa ideia prende-se com o medo que nós, caminhantes desta Vida, temos perante ela. É claro que um ‘livro vivido’ tem suas marcas, os resquícios dos processos que realizou, das etapas que venceu e perdeu… Mas para sermos árvores frondosas, alguns de nossos ramos, em algum dia, deverão ser cortados. Dói, é claro que sim, e ninguém desejará essa dor, mas… No final, seremos aquilo que, um dia, quisemos ser.

EntreGêneros: Em todos os seus textos em prosa, você fala utiliza muito a palavra caminho. Existe um poeta sevilhano, Antonio Machado que tem um poema que diz "caminante, no hay camino, se hace camino al andar." Consideraria essa a sua filosofia de vida?

PBC: Sim, de certa maneira sim… Mas note que difiro um pouco das palavras do poeta. Para mim, existem vários caminhos já definidos; o caminhante apenas os materializa com seu caminhar. No cabeçalho do meu blog, gravei a seguinte inscrição: «A Vida é um caminho, o Caminho é uma vida; a cada momento, rumando ao Infinito, o caminhante explora o Tempo, o Espaço e o cheiro e a forma de todas as coisas». Penso que isso diz tudo.

EntreGêneros: Em seu blog, a maioria de seus textos é no formato de prosa. Poucas são as poesias. Você prefere ou sente fluir melhor a sua expressão através da prosa?

PBC: Não. O blog cria, de facto, essa ilusão. Como falei antes, iniciei-me na escrita através da Poesia e, até hoje, ela me acompanha. Posso dizer que 85% daquilo que escrevo é Poesia… Criei o blog porque desejei expandir meus domínios artísticos. Como tal, nele publico, agora, somente aquilo que reflecte a minha condição de prosista.  

EntreGêneros: Seu  primeiro livro editado, em novembro de 2010, " A jornada da loucura",  foi um livro de poemas. Foi um mero acaso ou teve a ver com o seu momento criativo? O que tem de você mesmo, de seu processo como ser humano, nesses poemas?

PBC: Como já referi, foi de Poesia pois esse é o género que mais naturalmente flui em mim. Em relação à obra, ela anuncia, de facto, um processo – o trilhar de um percurso iniciático. É claro que eu tive de o conhecer, de o sentir primeiro antes de o poder escrever. Cada poema, nessa obra, é uma etapa, algo que nos aproximará do término da viagem, mas somente para que uma outra se inicie. É, no fundo, um despertar espiritual. E material também… Ou não tivessem sido os poemas escritos em três cidades diferentes!... Viajados, não??

EntreGêneros: Fale-nos um pouco sobre seu novo projeto: o lançamento do livro "Nova Era". Qual é a temática do livro, em que se inspirou para concebê-lo? Trata-se de prosa ou poesia?

PBC: Esse novo projecto, que espero lançá-lo já no próximo mês, aqui em Portugal, é algo que há muito desejava fazer, apesar só ser ainda o meu segundo livro. É de poesia, mas uma poesia necessariamente interventiva. Dizia Hoderlin: “Para quê Poetas em tempos de indigência?” Para despertar consciências, direi eu. É necessário mudar, repensar os moldes sociais em que vivemos, ‘abanar’ a estrutura que nos suporta e reerguê-la… Daí este livro. Quero com ele alertar para a necessidade de nos prepararmos para uma “Nova Era”. Se estivermos atentos, conseguimos entender que algo já está a mudar… Que o combate seja pacífico, que o Amor, o Respeito e a Tolerância imperem nos corações dos Homens, que possamos aprender para ensinar e ensinar para aprender. São ideias que há muito vivem em mim e que pulsavam para se libertarem. E agora aqui estão elas, moldadas em formas de versos.

EntreGêneros: Agradeço muito pela entrevista e deixo esse espaço reservado para falar sobre algo que deseje. 

PBC: Apenas tenho a agradecer este momento – foi bastante agradável – e a oportunidade de estar aqui, entre amigos. Foi um sincero prazer para mim! Até breve.






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" NOVA ERA"



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SINOPSE :
"Em tempos conturbados, social e economicamente, o autor manifesta-se “pacificamente” pela poesia. Alerta-nos para a necessidade de despertar consciências, de lançarmos as fundações de uma "Nova Era" que terá de brotar do interior de cada um; terá de ser do renascer individual que se conjugarão sociedades renovadas. Através de uma poesia interventiva, leva o leitor a auto-questionar-se: quem sou e o que pretendo fazer? Que caminho seguir? Como posso influenciar positivamente a sociedade onde vivo? (...Estando desperto, novos horizontes serão alcançados. Saberá quando dizer «sim» ou «não» e escolherá o seu trilho.O futuro começa hoje na definição de cada carácter». "
José Belo Vieira, "Do Prefácio"
 




4 comentários:

  1. Ótima, esta oportunidade de conhecer melhor o poeta.

    Obrigada à Ianê, e à você, Pedro.

    Beijos

    Mirze

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  2. Obriga à você, amiga, pela presença e prestígio.
    Grande beijo.

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  3. De minha parte também agradeço, cara Mirze.
    Beijos poéticos.

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  4. ..grata pela a oportunidade de conhecer mais e melhor o grandioso poeta NILSON BARCELLI, uma excelente referência poética.

    Deixo as minhas maiores felicitações a ambos.

    Assiria

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