sábado, 28 de janeiro de 2012

ANNA CLARA VALENTE - ENTREVISTA Nº 15




EntreGêneros: Seu interesse pela música começou cedo. Você começou a tocar violão aos 12 anos. Aos 18, iniciou seus estudos em piano e entrou para a faculdade de música na UNIRIO. Fale-nos sobre a sua trajetória na música, como intérprete e compositora. Quais as vozes e estilos musicais que lhe inspiraram?


AC: A cantora que mais me inspirou foi fatalmente a Elis Regina, tanto pela forma de cantar quanto pelas interpretações sempre muito intensas e cheias de emoção. Ela continua sendo uma grande referência para mim. Quanto à composição, Tom Jobim é a minha influência mais forte.


EntreGêneros: Muitos cantores hoje em dia utilizam-se de toda uma parafernália técnica e você faz o caminho inverso, sustentando seu trabalho  na qualidade de sua voz, suave e harmoniosa, combinada a um estilo que tem como base a MPB, mas com arranjos experimentais, com uma considerável influência do jazz. O que a fez escolher esse caminho?


AC:
A beleza das canções da MPB tocadas ao violão ou ao piano sempre serão fonte de inspiração e referência para mim. Mesmo assim, não me fecho para o novo, pois acredito que haja muita música boa para ser feita com as parafernálias que aparecem a cada dia.


EntreGêneros: Os artistas independentes costumam ter vontade de tocar em lugares grandes e lotados. Você tem esse desejo ou acha que prefere essa coisa mais intimista, de tocar em lugares pequenos, com o público ali bem pertinho?


AC: Tenho sim!E acho que todos os artistas têm essa vontade, pois isso é um sinal de reconhecimento do seu trabalho.


EntreGêneros: Você passa uma alegria e um grande prazer quando canta. Mas todo artista costuma ter uma dimensão trágica. Qual o papel da dor no seu processo criativo? Vc acha que a música pode ajudar a ultrapassar as adversidades?


AC: Eu acho que a música, como todas as artes, nos torna mais sensíveis ao que nos cerca e, para mim, a sensibilidade é o primeiro passo para que o ser humano enxergue o outro (e me refiro aqui a qualquer manifestação de vida, não só a nós). Acredito que se todos estivermos mais atentos ao outro as adversidades seriam mais simples de serem ultrapassadas.


EntreGêneros: Numa sociedade dominada pela imagem, em que todo artista tem sua vida devassada pela mídia, como você lida com a fama.  Alguma vez o sucesso lhe incomodou ao ponto de querer ficar  longe dos holofotes?


AC: Ainda não me considero uma pessoa famosa, porém me incomoda muito o julgamento superficial das pessoas. Sei que ainda vou passar por isso e portanto venho me preparando para não me deixar abalar quando isso acontecer.


EntreGêneros: Como você lida com a crítica? Teve alguma crítica especifica em todo esse tempo que te incomodou demais?


AC: Eu não lido bem com a crítica, mas tenho consciência disso e somente isso já me ajuda muito.


EntreGêneros: É difícil sair do circuito independente e entrar  na grande mídia? Hoje em dia lhe parece mais fácil para os artistas independentes alcançarem algum reconhecimento?  Gostaria de saber o que você acha da pirataria de cds, músicas para download disponível na Internet? Acha bom ou prejudicial para a sua carreira?


AC: Não acho prejudicial. Porém, como o modelo de negócios da música está mudando, os novos artistas, como eu, ainda não sabem muito bem como se alavancar e iniciar o seu trabalho. Isso é difícil. Por outro lado, as possibilidades são muitas com as novas ferramentas e dinâmicas de distribuição, promoção e conexão com o público.


EntreGêneros: Diz-se que a música é mais misteriosa do que a palavra. Como compositora e intérprete como circula entre esses universos. Escrever possui um papel tão ou mais importante do que estar em um palco cantando?


AC: Os dois são muito especiais para mim! Na composição eu estou gerando algo e o que sinto é um orgulho e gratidão pelo que realizei. No palco eu me conecto com as pessoas e eu, particularmente, gosto muito,  muito disso!


EntreGêneros: Você possui muitas letras confessionais? Parafraseando o filme “Quase Famosos”, é preciso ter vivido uma situação para escrever sobre, é preciso sofrer por amor pra escrever sobre isso?


AC: Tenho algumas, mas geralmente minhas letras falam mais de sentimentos meus do que de ações concretas. Pode ser um sentimento e ponto de vista em relação ao relacionamento de duas pessoas próximas, como no caso de “Quis acreditar”, ou um ponto de vista de um tipo de comportamento, como no caso de “Mundo vai girar”. Às vezes, a letra não fala de algo que aconteceu comigo, porém tem uma frase, um tipo de atitude ou sentimento com o qual me identifico. Não acho que é preciso sofrer de amor para escrever sobre ele, mas que ajuda, ajuda!

EntreGêneros: Alguns artistas adotam um tipo de visual em sua apresentações em  público. Percebo que você adota um "look" voltado para o lado romântico.  É intencional? O quanto esse tipo de visual nos revela sobre sua personalidade?


AC:
O visual que eu adoto tem algo romântico sim e isso tem a ver com a minha personalidade, sonoridade e momento de vida. Não faço nada que não tenha a ver comigo, eu preciso acreditar e me identificar com cada detalhe do meu trabalho. Porém, o meu look vem mudando e, a partir do lançamento do meu álbum, ele não estará voltado para o lado romântico.


EntreGêneros: Lançou seu primeiro EP em 2010 com três faixas de sua autoria – dentre elas “Um dia de sol” e com a regravação de “Canto de Ossanha” de Baden e Vinícius. Quando sai o novo cd, já tem músicas novas ou está em processo de criação?  


AC: O novo cd está praticamente pronto! E estou muito satisfeita com o resultado dele! Do EP a única que entrou foi “Um dia de sol”, que aliás está totalmente diferente da última versão. Vou lançá-lo no primeiro semestre de 2012, mas não sei a data por exato. Ainda estou estudando uma boa estratégia de lançamento.


EntreGêneros: Além da música, como é a Anna Clara Valente no dia a dia? O que você gosta de fazer para passar seu tempo?


AC: Além de cantora, sou professora de canto e por isso acabo tendo pouco tempo livre. Quando tenho,acabo querendo ficar em casa descansando, vendo um filme deitada no meu sofá que eu amo... Sou super caseira!


EntreGêneros:  Espaço livre para deixar um recado, fique a vontade. 


AC: Nessa época do ano, vem sempre o velho clichê. Mas quero de verdade desejar a todos tudo de bom.  Estou muito orgulhosa do álbum que estou terminando e com ele levarei o melhor da minha arte para as ruas.  Espero que consiga entregar e transmitir futuramente a vocês ao menos um pouco dos sentimentos incríveis que esse álbum me proporcionou. Beijos a todos! Anna


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