domingo, 16 de outubro de 2011

ADRIANO NUNES - ENTREVISTA N° 2





Entregêneros: Como teve início o seu interesse pela escrita? Quais escritores lhe influenciaram e em em que busca inspiração para escrever?


ADRIANO NUNES: Quando criança, a música foi o meu primeiro contato com a Poesia. Não me lembro de ter estudado algum poeta na infância. Para mim, Poesia/Poema eram as letras das canções. Então, os meus poetas eram músicos. Comecei a escrever poemas, possivelmente, aos cinco ou seis anos de idade, quando ainda morava em uma cidade do sertão alagoano chamada Pão de Açúcar. Eram versos simples, rimados, sem nenhuma pretensão artística. Não entendia como aquilo surgia em minha mente e porque queria estar no papel. Talvez, fosse como se encenasse um teatro, essa brincadeira de inventar personagens, de criar situações, de compor certas canções ao acaso, muito comum nessa idade.

A mudança da cidadezinha para a Capital, quando eu tinha uns oito ou nove anos, trouxe nova luz para a minha vida. Morávamos em uma casa alugada, próxima ao SESC onde havia uma biblioteca. O primeiro poeta que entrou em meu mundo, em minha infância/pré-adolescência foi Fernando Pessoa. A paixão por tudo aquilo que eu li/memorizei dele viria a se confirmar depois com o porvir. Não entendia como alguém tinha sido capaz de escrever aquilo, como se desdobrava em outras pessoas. 

Nova mudança de lar. O aluguel da casa agora era um estorvo. Como meus pais, à época, estavam sem condições financeiras para custear estudos, aluguel e tudo o mais, decidiram transformar o nosso lar em uma pensão familiar, assim pagariam as despesas da casa e nada nos faltaria. Na pensão, vim a conhecer o poeta alagoano Jurandir Mamede, um poeta revolucionário moldado de acordo com a ideologia cubana e soviética. Foi a ele que mostrei, pela primeira vez, o que eu escrevia... E não sei dizer o porquê, mas ele gostou do que leu.

Com a amizade de Jurandir, veio a avassaladora atração pela Poesia, por tudo que ela representava. Acompanhei-o em quase todos os eventos dos quais ele participava e terminei por conhecer e conviver com os poetas alagoanos dessa época, principalmente, os mais rebeldes, os boêmios. Ia inclusive a programas de rádio recitar poemas, meus, de Pessoa, dos poetas russos, dos loucos alagoanos, enfim, o programa O Brilho da Cidade, da Rádio Gazeta de Alagoas, rendeu-se ao encanto de uma criança com apenas dez anos de idade. Fui ao lançamento do primeiro livro de Jurandir, o "O Ocaso Não É Por Acaso" e lá também recitei poemas. Estava ficando cada vez mais ligado à Poesia.

Arnaldo Antunes me levou a conhecer os concretistas e a amá-los. Fase de grande admiração por Caetano, os Titãs, Péricles Cavalcanti e Adriana Calcanhotto. Antonio Cicero ainda não tinha entrado em minha vida, via o nome dele nos encartes dos discos, mas não sabia quem era e o que era. Devorei, nos primeiros anos de Medicina, toda a poesia de Pessoa e dos concretistas. Sabia de cor as "músicas concretas".

Ainda não tinha dinheiro para ter livros e a biblioteca da UFAL era o meu baú secreto de tesouros, nas horas vagas. Conheci, a partir desse momento, Manuel Bandeira (passaria a ser o meu poeta preferido depois de Pessoa), Drummond, João Cabral, Mário Quintana e os simbolistas. Augusto dos Anjos me atormentava e eu gostava e ainda gosto muito da sua poesia.

Na metade do curso, os tempos eram outros (financeiramente e literariamente): já falava e escrevia em inglês. Passei a ler então os poetas ingleses: keats, Yeats, Shakespeare e o maior de todos, para mim: Walt Whitman! Shakespeare e Whitman influenciaram Pessoa muito e eu tinha como obrigação lê-los, entendê-los e amá-los, pois amava Pessoa. Aí, aconteceu outro drama-cômico: comecei a gostar desesperadamente de ler prosa (não citarei os autores porque foram e são muitos... E aqui o que mais me interessa é mesmo a Poesia). Shakespeare ocuparia, em prosa, a partir daí, o lugar que Pessoa ocupa na poesia.

Os poetas franceses também me influenciaram muito: Baudelaire, Verlaine e Arthur Rimbaud. Sou médico e poeta. Admirador de Antonio Cicero, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos, Augusto dos Anjos, Baudelaire, Borges, Caetano Veloso, Camões, Drummond, Décio Pignatari, Eucanaã Ferraz, Fernando Pessoa, Glauco Mattoso, Haroldo de Campos, Horácio, João Cabral de Melo Neto, Jorge de Lima, José Paulo Paes, Lêdo Ivo, Lorca, Manuel Bandeira, Mário Quintana, Nietzsche, Nelson Ascher, Paulo Leminski, Paulo Henriques Britto, Pound, Rilke, Régis Bonvicino, Shakespeare, T.S. Eliot, Walt Whitman, Waly Salomão, Wilde, Yeats... As minhas madrugadas são assim.

Não me prendo à regra nenhuma e a nenhum processo de criação. Se quero fazer um poema concreto, faço-o. Se penso em um soneto, construo-o. Uso as técnicas todas porque todas me são acessíveis. A mágica é não pertencer a tempo algum e ser, ao mesmo tempo, clássico, rebelde e experimentalista. Gosto do visual e do impacto que uma palavra é capaz de causar em um poema, por isso aprecio os ritmos, a métrica, os sentidos e estudo como poderia tornar (o poema) cada vez melhor, apesar da minha ansiedade de expô-lo urgentemente ao público.


Entregêneros: Com que gênero literário mais se identifica na construção de seus textos?


ADRIANO NUNES:  Poesia, claro. Mas leio muito Filosofia e os Clássicos.

Entregêneros: Como você vê o cenário poético no atual contexto literário?  Acha que está havendo uma maior valorização da poesia?


ADRIANO NUNES: As pessoas estão lendo mais poesia. A internet contribui para isso. Poetas vêm ganhando destaque no mundo. O Prêmio Nobel deste ano foi para um poeta, o escritor sueco Tomas Tranströmer.


Entregêneros: A internet tem sido um meio difusor de grande valia em nossos tempos. Você percebe a manifestação de novos talentos no contexto literário? Poderia citar alguns autores que lhe chamem a atenção em particular? 


ADRIANO NUNES: Na internet, você pode encontrar de tudo. Lá, têm-se bons poetas assim como pessoas que pensam que são poetas porque acham que tudo que escrevem em verso é Poesia. Aprecio alguns poetas que publicam em blogs, mas sou bastante seletivo.


Entregêneros: A que fato você acha que se deve a dificuldade encontrada pelos autores na publicação de um livro? Você tem algum livro publicado?


ADRIANO NUNES: Não tenho livros publicados, mas já fui publicado em antologias aqui em Alagoas e em livros de amigos meus alagoanos. 
Creio estar bem mais fácil lançar livros, sejam de poemas ou de quaisquer temas. Ano que vem, pretendo lançar um livro com alguns poemas já publicados e outros inéditos. Livros são essenciais. A internet não tem como ocupar o lugar deles.


Entregêneros: Tem algum projeto em andamento? Pode nos falar algo sobre ele?


ADRIANO NUNES: Em 2012, lanço o meu primeiro livro de poemas cuja capa já está exposta em meu blog e que foi feita por meu amigo, o artista plástico Gal Oppido. Em 2013, pretendo publicar um livro de contos.


Entregêneros: Termine com uma frase que acha que resume o ato de escrever para você.


ADRIANO NUNES: Poesia é acertar na trave.


ADRIANO NUNES - POESIAS

2 comentários:

  1. Parabéns Ianê.

    Acho que este é mais um dom que você tem entre tantos outros.

    Beijos

    Mirze

    ResponderExcluir
  2. Lindo blog, Ianê! Parabéns!

    ótima entrevista!

    Beijos!

    ResponderExcluir