quinta-feira, 20 de outubro de 2011

ANA TAPADAS - POESIAS



Teia Luminosa

Que faremos no silêncio gelado,

Dos olhares que se cruzam...
E não sonham?
Que orquestra, que limiar?
Que fina aresta, que traçado?


Usam secretos sibilos, os arautos,
E caminham sobre a teia luminosa.
Incautos, porque sonham?


Protegida




Não devia, sem dar, fazer nascer o repartir,
Não devia vir onde me afasta o meu ir...
Este encontro nascido do regresso,
Esta alma nua a virar almas do avesso!


Não queria ser suave e ser ferro;
Não poderia ser o gérmen do erro.
Não queria fazer vergar se estou a vacilar,
Não podia partir no meu sentido ficar!


Meu Deus, isto que lanço, isto que invento,
Isto que é um aproximar, um pressentir,
Jamais veio de mim ou do meu intento!


Senhor, por que sou um não sei quê que faz sentir
Um desencontro de protegida dormindo ao relento?
Por que sou a perturbação de quem me pede p'ra sorrir?


Caía serena e mansa no cinzento do dia,
Como um sacramento húmido e puro!
Nem sei porque olhando eu bendizia
O clarão tardio de um ideal maduro.


Tingia-se de luz, qual fruto escuro,
Como um lamento de sol entontecia.
E, procurando na noite meu ideal duro,
A  irmã chuva no olhar me amanhecia!


Caiu serena em gotas de paz e tormento,
Desceu nas palavras suaves e medidas,
Inundou o meu deserto árido e sedento.


E em mim despontaram esperas perdidas.
Nem sei que ânsia de dar ou que momento
Me levou a desejar riquezas esquecidas!

O Excesso





Se chorar, dirás que sofro...
E, todavia, o céu telúrico.
E, todavia, os teus passos,
Os teus laços,
Tu...
O palpitar constante,
O ser difuso, divagante!
Não sei do espaço,
Perdi o tempo,
No momento
Em que tocaste o meu sonho!
A beleza, a nobreza...
O excesso e o reverso...
E, se te sonho e te quero,
Tu és a calma, a agitação
- o meu processo!
Se chorar dirás que sofro!
O habitual, o convencional...
Porém, há um hino divinal
E pássaros entram pelas vidraças,
Se me abraças...
E te perdes.




Resumo


Posso, finalmente, abrir os braços

E neles abarcar este mundo, este mar;
Falar-te das palavras pequenas e dos laços,
Que unem e libertam, bêbados de amar!


Dizer-te, com calma e sem protestar,
Que o eco divinal dos teus passos
Liberta a paz e o sonho de me dar
À força etérea de musicais compassos.


Neste eterno oscilar a música amo,
Da natureza de um ser o eco e perfume.
E, no antro da vida, procuro e clamo


Fugindo às cálidas manhãs e árido lume,
Porque os desejo e neles me derramo,
Posso dizer-te o Amor que o poema resume!


ANA TAPADAS - BIOGRAFIA

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